
- Programas públicos aliviam, mas não revertêm a tendência de mercado mais restritivo.
- Goldman Sachs prevê piora do crédito, com impacto do aperto monetário e da desaceleração econômica.
- Endividamento das famílias chega a 49,1% da renda, com serviço da dívida em recorde de 28,8%.
O Goldman Sachs projeta piora nas condições de crédito no Brasil, apontando que o aperto monetário prolongado e a fraqueza da atividade econômica devem pressionar bancos e empresas. A instituição afirma que o ambiente mais restritivo dificulta a expansão das carteiras e aumenta o risco para novas concessões.
Mesmo com a alta de 1,3% na originação em outubro, puxada principalmente pelas famílias, o banco destaca sinais claros de estresse financeiro. O movimento confirma que o avanço recente não é suficiente para compensar o ambiente desfavorável que se forma no mercado.
Pressão aumenta sobre o crédito
O Goldman avalia que o cenário atual combina juros elevados, desaceleração do mercado de trabalho e menor tração na economia. Além disso, analistas reforçam que essa combinação pesa diretamente sobre empresas e consumidores que dependem de linhas de financiamento. Dessa forma, a tendência é de maior seletividade bancária nos próximos meses.
A instituição ressalta que juros mais altos já impactam consumidores e companhias, reduzindo a demanda por crédito novo. O quadro também deteriora a qualidade das carteiras, o que leva bancos a adotar critérios mais rígidos. Assim, o setor financeiro se prepara para um período de maior cautela.
Mesmo com respostas pontuais, o banco vê o ciclo de restrição ainda dominante. A projeção considera que o impacto do aperto monetário continua se espalhando para mais segmentos da economia. Por isso, a expectativa é de desaceleração gradual na concessão total.
Endividamento das famílias preocupa
O relatório chama atenção para a inadimplência corporativa em 3,3%, patamar que pressiona limites de crédito. O estudo também aponta vulnerabilidade crescente no segmento de varejo, principalmente entre consumidores com renda comprometida. Além disso, juros mais altos tendem a encarecer renegociações, dificultando alívio imediato.
O Goldman destaca que o endividamento das famílias atingiu 49,1% da renda disponível, enquanto o serviço da dívida chegou a 28,8%, o maior nível já registrado. Esses dados mostram que a capacidade de pagamento está cada vez mais apertada. Assim, o risco de novos atrasos aumenta.
A instituição afirma que a trajetória preocupante pode reduzir ofertas de crédito mais arriscado. Para analistas, o foco dos bancos continuará voltado para produtos com garantias e clientes de menor risco. Isso reforça a tendência de retração, mesmo com iniciativas de estímulo.
Programas públicos tendem a aliviar pouco
O Goldman reconhece que bancos públicos e programas do governo podem oferecer algum amortecimento ao cenário. No entanto, a instituição avalia que essas ações têm alcance limitado. Além disso, não devem reverter a tendência dominante de enfraquecimento do crédito privado.
Embora iniciativas federais melhorem condições específicas, o banco defende que o impacto mais relevante depende da redução do custo do dinheiro. Assim, a melhora duradoura só viria com mudança consistente na política monetária e recuperação mais ampla da economia. Até lá, os riscos seguem elevados.
Para o Goldman, o ciclo de crédito brasileiro continua pressionado e deve permanecer assim por mais alguns meses. A expectativa é de um ambiente mais cauteloso, em que bancos priorizam qualidade e resiliência das carteiras diante do cenário macro.