
- Compras de argentinos no Chile disparam 438% em 2025, drenando reservas internacionais.
- Peso está até 30% supervalorizado, segundo economistas, tornando importados mais baratos.
- Estratégia de Milei perde força política, com risco de pânico cambial e desgaste popular.
A Argentina vive um paradoxo explosivo: enquanto o governo de Javier Milei tenta sustentar o peso artificialmente valorizado para conter a inflação, milhares de famílias atravessam a Cordilheira dos Andes e lotam os shoppings do Chile.
O movimento, cada vez mais intenso, drena reservas em dólar, fragiliza a política econômica do presidente e aprofunda a crise cambial que já ameaça se transformar em pânico financeiro.
Compras que viram fenômeno
Nas ruas de Santiago, o cenário é repetido diariamente. Carros argentinos abarrotados saem da capital chilena carregando televisores, eletrodomésticos, roupas de grife e até laptops. O aumento do fluxo é impressionante: 50% mais veículos do que no ano passado e 150% acima de 2023 cruzaram a fronteira em 2025.
Segundo dados da Transbank, as compras feitas com cartões argentinos dispararam 438% neste ano no Chile, colocando os vizinhos como os maiores consumidores estrangeiros no país. Em shoppings como o Costanera Center, ouvir o sotaque portenho virou rotina.
Para o comércio chileno, o fenômeno é uma mina de ouro. Algumas lojas, inclusive, passaram a liberar argentinos de exigências burocráticas, como o cadastro em sites de e-commerce.
O peso supervalorizado
A origem do frenesi está nas políticas do próprio Milei. O presidente optou por manter o câmbio estável em relação ao dólar para sinalizar confiança aos investidores e reduzir a inflação. Entretanto, esse movimento gerou um efeito colateral: o peso se tornou artificialmente forte.
Essa valorização tornou os produtos importados muito mais baratos para a classe média argentina, incentivando as viagens ao exterior. No Chile, a diferença de tarifas amplia ainda mais o incentivo — roupas, por exemplo, custam quase 30% menos do que em Buenos Aires.
Economistas apontam que o peso pode estar até 30% supervalorizado, um nível insustentável que provoca fuga de capitais e acelera a perda de reservas internacionais.
Milei sob pressão
O governo enfrenta agora um dilema: manter o peso valorizado para conter a inflação ou liberar o câmbio e arriscar uma disparada de preços. Analistas alertam que a segunda opção pode ser inevitável caso as reservas continuem caindo.
Além disso, a popularidade de Milei dá sinais de desgaste. A percepção de que apenas a elite se beneficia da moeda forte, enquanto a maioria sofre com a recessão e o desemprego, corrói a base política necessária para aprovar reformas.
O risco, segundo especialistas, é a economia argentina entrar em um ciclo de corrida cambial e perda de confiança, o que poderia levar a um novo colapso financeiro.