
- Shutdown limita dados oficiais e dificulta a leitura do Fed sobre inflação e emprego.
- CPI (24/out) será peça central, mas lacunas no mercado de trabalho persistem.
- Habitação, IA e incerteza comercial ampliam a cautela antes da decisão de 29 de outubro.
O Federal Reserve (Fed) chega à próxima decisão de juros com parte dos dados “no escuro” por causa do shutdown. Sem relatórios-chave de desemprego a vendas no varejo, a autarquia precisa se apoiar em pesquisas privadas e sinais alternativos para calibrar o cenário.
Enquanto isso, o mercado aguarda o CPI de sexta (24) e monitora a tensão comercial EUA–China. A combinação de inflação persistente, mercado de trabalho enfraquecido e ruído político eleva o grau de dificuldade para Jerome Powell.
Fed com menos bússola, mais incerteza
Sem estatísticas oficiais completas, dirigentes do Fed recorrem a sondagens do Conference Board, do Fed de NY e do ISM para ler preços, demanda e atividade. Em 2018–2019, a instituição adotou estratégia semelhante, usando transações com cartões e vendas de veículos como “proxy”.
O risco, alertam gestores, é errar o diagnóstico do duplo mandato, priorizar inflação quando o problema é emprego, ou o inverso. A queda no ritmo de contratações até agosto e a alta do desemprego entre jovens e minorias reforçam a cautela.
Ainda que o CPI de setembro deva sair, graças a um esforço do BLS, faltam peças do quebra-cabeça do trabalho. Dados privados ajudam, mas não substituem o padrão-ouro dos números governamentais.
Habitação, IA e choques políticos no radar
A taxa básica do Fed afeta a demanda, mas não resolve a oferta de moradias. Com estoque baixo e hipotecas altas, a acessibilidade segue pressionada. O próprio Powell já admitiu: o Fed não corrige a escassez habitacional.
Empresas também adiam contratações diante de tarifas e incertezas. Ao mesmo tempo, testam IA nos processos, o que substitui funções de entrada e congela vagas. Cortes de juros podem aliviar o crédito, mas não reativam rapidamente ocupações que a tecnologia automatiza.
Relatos do ISM mostram demandas mais lentas e decisões alongadas em serviços e manufatura. Esse ambiente reforça a mensagem de prudência para a reunião que se encerra em 29 de outubro, com coletiva de Powell às 14h30 (Washington).