
- O México descartou de forma definitiva o acordo de livre comércio com o Brasil
- As economias competem em setores estratégicos e acumulam tentativas frustradas de integração
- A relação segue restrita a acordos pontuais como o automotivo e à possível abertura para carnes brasileiras
O México decidiu descartar, de forma definitiva, a possibilidade de assinar um acordo de livre comércio com o Brasil. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (28) pelo secretário de Economia, Marcelo Ebrard, e encerra mais uma tentativa frustrada de aprofundar a integração regional.
Mesmo após várias rodadas de conversas no passado, as duas maiores economias latino-americanas não conseguiram transformar expectativas em resultados concretos. Para analistas, a dificuldade decorre de barreiras estruturais e da competição direta entre setores estratégicos dos dois países.
Impasse comercial
A afirmação de Ebrard reforça um diagnóstico que já vinha sendo apontado por especialistas em comércio internacional. Apesar de compartilharem interesses comuns no cenário global, Brasil e México competem em áreas relevantes, como a indústria automotiva e a exportação de commodities, o que inviabiliza avanços mais profundos.
O histórico mostra que diferentes governos tentaram ampliar os acordos bilaterais, mas as negociações sempre esbarraram em divergências de interesse. Enquanto o Brasil buscava mais abertura para o agronegócio, o México preferiu proteger sua indústria local. Esse impasse criou um ambiente em que nenhuma das partes conseguiu flexibilizar posições.
Com isso, o cenário atual consolida a percepção de que a integração entre Brasil e México seguirá limitada a iniciativas pontuais. O livre comércio, embora desejado por parte do setor produtivo, não encontra terreno fértil para prosperar.
Acordos em vigor
Apesar do impasse, as relações comerciais entre os dois países não estão paralisadas. Atualmente, existe um acordo de complementação econômica que permite trocas no setor automotivo, com regras especiais para exportação de veículos e peças. Esse mecanismo tem funcionado como o principal instrumento de aproximação.
Nos últimos meses, também houve avanços em outra frente. Autoridades mexicanas confirmaram que iniciarão em setembro auditorias em 14 frigoríficos brasileiros, abrindo caminho para que novas empresas do setor de carnes sejam autorizadas a exportar para o mercado local. Essa medida foi interpretada como um passo importante, ainda que restrito.
Embora positivo, o movimento não altera o quadro maior, já que não há perspectiva de ampliação para outros segmentos. A limitação reforça o entendimento de que as barreiras estruturais continuarão pesando mais que as oportunidades de cooperação.
Repercussão regional
O anúncio repercutiu em toda a América Latina e reforçou as fragilidades do processo de integração regional. A ausência de um acordo amplo entre Brasil e México faz com que blocos externos, como Estados Unidos e União Europeia, sigam como destinos prioritários de exportação.
Especialistas destacam ainda que a decisão mexicana reflete o peso do T-MEC, acordo de livre comércio que une México, Estados Unidos e Canadá. Essa prioridade reduz o espaço político para o Brasil ganhar protagonismo nas negociações.
Nesse contexto, o Brasil deve continuar buscando alternativas comerciais em outros mercados, já que o México sinaliza claramente que manterá uma postura cautelosa. A relação bilateral, portanto, seguirá pautada por limitações estruturais, ainda que existam oportunidades pontuais de cooperação.