
- Trump cogita tarifa de até 100% a países que compram energia da Rússia; Brasil está entre os principais alvos.
- Diesel e fertilizantes russos respondem por parte expressiva das importações brasileiras.
- Congresso dos EUA estuda sanções automáticas, e Brasil poderá ser enquadrado como aliado indireto de Moscou.
O governo dos Estados Unidos ameaçou aplicar tarifas de até 100% a países que mantêm relações comerciais com a Rússia. Sendo assim, os alvos seriam, principalmente, as importações de petróleo, combustíveis e fertilizantes. setores em que o Brasil tem forte dependência de Moscou.
Durante evento na Casa Branca, o presidente Donald Trump afirmou que estuda medidas severas contra países que compram energia russa, sem citar diretamente o Brasil. No entanto, analistas e representantes do setor agroindustrial alertam que o país está altamente vulnerável à nova ofensiva americana.
Diesel russo: risco imediato
O Brasil pode estar na linha de fogo por causa do volume crescente de diesel importado da Rússia. Segundo dados da consultoria StoneX, 39,1% do diesel comprado pelo Brasil no primeiro semestre veio da Rússia, superando os 32,8% importados dos próprios Estados Unidos. Esse aumento transformou Moscou no principal fornecedor do combustível ao país.
A ameaça de Trump reforça um cenário de tensão que já vinha se formando após a imposição de tarifas de 50% sobre diversos produtos brasileiros. Agora, o risco envolve uma tarifa de até 100% especificamente ligada ao comércio com a Rússia e pode afetar diretamente caminhoneiros, distribuidoras e o setor de transporte como um todo.
Nesse sentido, o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, afirmou que o Brasil não conseguiria substituir os produtos russos facilmente. “Não é simples tirá-los do mercado e encontrar fornecedores alternativos”, explicou, ressaltando que a logística e os preços tornam a Rússia altamente competitiva.
Caso os EUA avancem com a retaliação, o diesel russo pode se tornar inviável, forçando o Brasil a buscar alternativas mais caras ou menos confiáveis, o que pressionaria preços internos e a inflação.
Fertilizantes: o calcanhar do agro
O setor agroindustrial brasileiro também está sob forte risco. Atualmente, mais de 90% dos fertilizantes utilizados no país são importados, com cerca de 30% provenientes da Rússia. Essa dependência já vinha sendo debatida em Brasília, mas ganha contornos mais graves diante da nova ameaça de Trump.
Para o agronegócio, a imposição de tarifas significaria aumento de custos em toda a cadeia produtiva, especialmente para culturas que demandam alto volume de insumos, como soja, milho e algodão. Representantes do setor já acionaram o Itamaraty para alertar sobre a gravidade do cenário.
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura, afirmou que parlamentares americanos veem as compras brasileiras como forma de financiamento indireto à guerra na Ucrânia. “Eles acham que quem compra da Rússia dá munição para a guerra continuar”, disse.
Além disso, o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, alertou que os EUA podem impor barreiras a produtos industrializados brasileiros como forma indireta de retaliação, atingindo setores que não têm relação direta com a Rússia.
Congresso dos EUA quer sanções automáticas
Parlamentares brasileiros que estiveram recentemente em Washington revelaram que há apoio bipartidário no Congresso americano para adotar sanções automáticas a países que mantêm negócios com a Rússia. A proposta, se aprovada, afetaria diretamente o Brasil, especialmente se não houver um plano concreto de diversificação das importações.
O senador Carlos Viana (Podemos-MG), integrante da comitiva, declarou que o clima em Washington é de alerta e que “outra crise pior pode nos atingir nos próximos 90 dias”. Segundo ele, a pressão por medidas duras é forte tanto entre republicanos quanto entre democratas.
Sendo assim, a retórica de Trump também sugere que essa nova frente de retaliação pode ser usada como instrumento político contra aliados de Vladimir Putin. Logo, como o Brasil se manteve neutro em fóruns internacionais, mas reforçou laços comerciais com Moscou, pode acabar enquadrado como “cooperador indireto”.
Caso o plano de Trump avance, o Brasil terá que escolher entre manter os acordos com a Rússia ou evitar um choque comercial com os EUA, seu segundo maior parceiro comercial.