Válvula de escape

Brasileiros recorrem mais ao crédito em 2025 e até alta renda entra na estatística

Demanda por crédito cresce 6,5% em maio, com alta em todas as faixas de renda; até quem ganha mais de 10 salários sente o peso do custo de vida.

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  • Busca por crédito subiu 6,5% em maio, segundo a Serasa Experian, com alta em todas as faixas de renda.
  • Consumidores que ganham até 2 salários lideram o avanço (10,6%), mas até quem recebe mais de 10 salários teve alta de 9,9%.
  • Tocantins, Amazonas e RS lideram crescimento regional, enquanto o Distrito Federal teve a maior queda (-10,6%).

A busca por crédito no Brasil aumentou 6,5% em maio de 2025 na comparação com o mesmo mês do ano passado. O avanço foi puxado principalmente por famílias com renda de até dois salários mínimos, mas também atingiu todas as demais faixas, inclusive os consumidores de alta renda.

Os dados são do Indicador de Demanda dos Consumidores por Crédito, divulgado pela Serasa Experian. A pesquisa mostra que, diante de uma inflação persistente e juros ainda elevados, até mesmo quem tem renda mensal superior a R$ 14 mil está recorrendo ao crédito para manter o padrão de vida e reorganizar o orçamento.

Alta atinge todas as faixas, mas impacto é maior nos mais pobres

Segundo o levantamento, a maior alta na busca por crédito ocorreu entre os brasileiros que ganham entre 1 e 2 salários mínimos, com crescimento de 10,6%. Na sequência, aparecem os consumidores com renda superior a 10 salários mínimos, com avanço de 9,9%.

Mesmo as faixas intermediárias apresentaram crescimento expressivo. Quem ganha entre 5 e 10 salários teve aumento de 7,9%, enquanto o público com renda entre 2 e 5 salários mínimos registrou elevação de 4,7%. Aqueles que ganham até 1 salário mínimo buscaram 4,0% mais crédito.

Para a economista Camila Abdelmalack, da Serasa Experian, os números mostram que o crédito deixou de ser apenas um instrumento de emergência. “O consumidor passou a usá-lo como ferramenta para manter o padrão de consumo e ajustar o orçamento familiar”, afirmou. Ela destaca que os efeitos da inflação de serviços e dos juros altos se espalharam por todos os perfis de renda.

Fenômeno é nacional, mas regiões reagem de forma desigual

O aumento da demanda por crédito não foi pontual. Das 27 unidades federativas, 24 registraram alta em maio, demonstrando um comportamento generalizado entre os consumidores.

O Tocantins liderou o ranking com uma explosão de 32,5%, seguido pelo Amazonas com 19,8%, e o Rio Grande do Sul, com alta de 17,6%. Esses estados apresentaram crescimento bem acima da média nacional, indicando uma dinâmica local ainda mais pressionada.

Na contramão do movimento, apenas três unidades federativas registraram queda. A maior retração foi no Distrito Federal, com recuo de 10,6%. O dado chama atenção, já que a capital concentra uma das maiores rendas médias do país, o que pode sinalizar maior cautela ou restrição ao endividamento local.

Crédito como válvula de escape para o custo de vida

O crescimento da demanda por crédito reflete um comportamento cada vez mais comum entre os brasileiros: recorrer ao parcelamento e a financiamentos como solução de curto prazo. Seja para manter o consumo ou renegociar dívidas antigas, o acesso ao crédito se tornou mais presente na rotina financeira das famílias.

Ademais, a tendência indica que o crédito passou a ter função estrutural no orçamento familiar. Mesmo entre os mais ricos, o uso da modalidade se intensificou, algo que não era comum em anos anteriores. Isso sugere que o peso do custo de vida aumentou de forma generalizada, exigindo novas estratégias financeiras em todos os níveis sociais.

Contudo, economistas alertam para os riscos. A utilização frequente do crédito pode aliviar o mês atual, mas tende a comprometer a renda futura. Se os juros permanecerem elevados, a inadimplência pode voltar a crescer nos próximos trimestres.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.