Renda das famílias

Poupança brasileira em risco: brasileiros sacaram R$ 49,6 bilhões só no 1º semestre de 2025

Saques voltam a crescer com perda de poder de compra; saldo negativo é 1.678% maior do que no mesmo período de 2024.

Crédito: Depositphotos
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  • Poupança teve saída líquida de R$ 49,6 bilhões no 1º semestre de 2025, segundo o Banco Central
  • É o pior resultado nominal desde 2023 e sinaliza dificuldades crescentes no orçamento das famílias
  • Junho teve leve alívio, com entrada líquida de R$ 2,1 bilhões, puxada por aumento pontual de depósitos

A Caderneta de Poupança registrou novo rombo no primeiro semestre de 2025. De acordo com dados do Banco Central divulgados nesta segunda-feira (7), a saída líquida entre janeiro e junho foi de R$ 49,6 bilhões. Sendo assim, esse volume representa um salto impressionante de 1.678% sobre os R$ 2,8 bilhões sacados no mesmo período de 2024.

Desse modo, apesar do saldo negativo, o mês de junho trouxe um leve alívio. Então, houve entrada líquida de R$ 2,1 bilhões, o que mostra uma melhora pontual no comportamento dos investidores. Ainda assim, o número geral do semestre reforça que a caderneta segue sendo usada como fonte de socorro financeiro pelas famílias.

Resultado reforça perda de fôlego da poupança como reserva

Segundo o BC, os brasileiros depositaram R$ 2,078 trilhões na Poupança entre janeiro e junho, mas sacaram R$ 2,129 trilhões no mesmo período. O desequilíbrio demonstra que os gastos continuam superando a capacidade de poupar, mesmo com uma taxa de juros elevada.

Ademais, desde 2021, com exceção de junho deste ano, todos os primeiros semestres foram negativos. Assim, o último saldo positivo foi em 2020, no auge da pandemia, quando o governo federal injetou bilhões na economia por meio do auxílio emergencial. Naquele ano, a entrada líquida somou R$ 84,4 bilhões, o melhor desempenho da série histórica.

Portanto, o gráfico divulgado pelo Banco Central mostra que, fora esse ponto fora da curva, a tendência de resgates supera a de aportes desde 2015. Apenas três anos — 2014, 2018 e 2020 — apresentaram saldo positivo no período analisado.

Indicador é reflexo da renda e da instabilidade econômica

Para analistas, o comportamento da poupança é um importante termômetro da renda, do emprego e do consumo. Quando há mais depósitos do que saques, é comum associar o movimento à cautela dos brasileiros ou a uma maior estabilidade financeira. No cenário atual, o resultado negativo aponta para o oposto.

Além disso, muitas famílias estão usando suas reservas para cobrir despesas básicas, enfrentar a inflação acumulada ou quitar dívidas. A necessidade de liquidez imediata tem feito com que aplicações simples e com resgate automático — como a poupança — voltem a ser a principal saída, ainda que menos rentável.

Apesar do rendimento anual ser de 6,17% mais a TR, com a Selic acima de 8,5%, a poupança ainda perde para vários fundos de renda fixa ou mesmo para o Tesouro Direto. Ainda assim, a facilidade de acesso e a isenção de imposto de renda mantêm sua popularidade entre os brasileiros.

Estoque da poupança teve leve alta em junho

Mesmo com o forte saque acumulado no semestre, o estoque total da poupança subiu de R$ 1,011 trilhão em maio para R$ 1,019 trilhão em junho.

Sendo assim, isso se deve ao saldo líquido positivo do mês mais os rendimentos creditados, que totalizaram R$ 6,37 bilhões.

No semestre, no entanto, o estoque recuou R$ 12,4 bilhões, o que indica que os juros pagos não foram suficientes para compensar os resgates.

Por fim, o rendimento total acumulado no período foi de R$ 37,2 bilhões, mas ainda assim ficou abaixo da necessidade de recomposição do capital investido.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.