Comércio global

China vai mudar o mundo de novo — e o Brasil pode perder o bonde, alerta professor

Especialista vê desaceleração como transição estratégica e alerta que o Brasil corre risco de virar apenas fornecedor de matéria-prima.

Lula e China
Lula e China
  • China vive transição de modelo exportador para consumo interno
  • Crescimento menor não significa perda de influência global
  • Brasil pode ficar para trás se não se adaptar à nova demanda

A desaceleração da economia chinesa, evidenciada por sinais como deflação e crescimento mais fraco, não significa que o país esteja perdendo espaço no cenário global. Ao contrário, para o professor Marcus Vinicius de Freitas, especialista em relações internacionais, a China está apenas mudando de rota — e com impacto potencial ainda maior.

Em entrevista à BM&C News, Freitas afirmou que o país asiático está deixando para trás o modelo de crescimento baseado em exportações, adotado por décadas, e avançando para um formato guiado pelo consumo interno. Segundo ele, esse movimento pode redefinir o comércio mundial nas próximas décadas — e o Brasil precisa acordar para não ser deixado para trás.

Transição econômica chinesa muda dinâmica global

A comparação feita por Freitas com o Japão mostra como a China está entrando em uma nova etapa de desenvolvimento. O modelo baseado em exportações em larga escala, típico de países emergentes, começa a dar lugar a um crescimento ancorado na demanda doméstica — algo natural em nações que se aproximam do status de alta renda.

Ademais, apesar do crescimento mais modesto, o impacto global da economia chinesa continua gigante. O professor reforça que, hoje, uma taxa de crescimento de 5% da China tem o mesmo peso que os dois dígitos do passado. Isso acontece porque o tamanho absoluto da economia é muito maior, o que faz com que qualquer avanço, mesmo que menor, continue relevante.

Além disso, a China ainda mira uma renda per capita entre US$ 20 mil e US$ 25 mil até 2049. Com uma população de mais de 1,4 bilhão de pessoas, esse avanço criaria uma massa consumidora colossal — capaz de redefinir cadeias globais de suprimento, valor agregado e até o perfil dos parceiros comerciais.

Críticas aos EUA e o novo perfil do consumidor chinês

Durante a entrevista, Freitas também questionou o otimismo exagerado em relação aos Estados Unidos, país que, segundo ele, convive com uma “mágica econômica” difícil de justificar diante de uma dívida pública superior a US$ 36 trilhões. Para ele, o real motor da economia global nos próximos anos continuará sendo o consumidor asiático, especialmente o chinês.

O especialista destaca que o consumidor chinês já mostra padrões de comportamento semelhantes ao americano. Em outras palavras, a China pode se transformar em uma sociedade de consumo em massa, com impacto ainda mais profundo sobre o comércio global. A diferença é que, agora, o foco será em qualidade, sofisticação e valor agregado.

Em suma, esse novo perfil de consumo coloca desafios para países exportadores. Não basta mais vender commodities. Então, é preciso entregar produtos com mais processamento, marca e tecnologia. E nisso, o Brasil ainda engatinha, na visão do professor.

Brasil corre risco de ficar preso no passado

Freitas alerta que, se o Brasil não se adaptar a essa nova realidade, poderá se tornar irrelevante. “Estamos caminhando para ser apenas fornecedor de matéria-prima, e o chinês vai querer comprar produtos prontos”, disse. Para ele, a janela de oportunidade existe, mas exige ação rápida do setor público e privado.

Além disso, ao mesmo tempo, o crescimento de países como Índia e nações do Sudeste Asiático abre novas possibilidades para exportadores brasileiros. No entanto, o especialista reforça que a China continuará sendo o eixo principal do comércio internacional — e o Brasil precisa ser mais do que um mero coadjuvante.

Desse modo, o desafio, segundo ele, é repensar o modelo econômico nacional. É hora de investir em industrialização, valor agregado, infraestrutura e logística para atender a um consumidor global mais exigente. Portanto, se não fizer isso, o país perderá espaço não só para concorrentes asiáticos, mas também para latino-americanos mais ágeis e adaptados.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.