Redução considerável

Com volta de exigência de vistos, entrada de estrangeiros no Brasil despenca

Alta de 25% no início do ano se inverteu com nova exigência; setor cobra reação do Congresso e teme prejuízo bilionário.

Com volta de exigência de vistos, entrada de estrangeiros no Brasil despenca
  • Medida do governo Lula que retomou exigência de visto freou crescimento no turismo internacional
  • Número de visitantes dos EUA, Canadá e Austrália caiu 0,6% no segundo trimestre
  • Congresso analisa projeto para derrubar decisão, mas texto segue parado na Câmara

Após registrar alta expressiva no primeiro trimestre, o fluxo de turistas estrangeiros ao Brasil caiu com a entrada em vigor da nova exigência de vistos. Desde 10 de abril, turistas dos Estados Unidos, Canadá e Austrália voltaram a precisar de autorização para entrar no país.

A mudança, determinada pelo presidente Lula, interrompeu uma tendência positiva. De janeiro a março, o número de visitantes desses países cresceu 25,3% em comparação com 2024. Já no segundo trimestre, houve queda de 0,6%, segundo dados da Embratur e da Polícia Federal.

EUA respondem por 83% dos visitantes afetados

No total, o Brasil recebeu 320 mil turistas dos três países no primeiro trimestre. No mesmo período do ano anterior, foram 255 mil. Mas entre abril e junho, com a nova regra em vigor, o número caiu para 176 mil, levemente abaixo do registrado em 2024.

Sendo assim, entre os países afetados, os Estados Unidos lideram em volume de visitantes. No primeiro semestre, 410 mil americanos visitaram o Brasil, representando 83% dos 497 mil turistas desses três mercados. O número equivale ainda a 8% de todos os estrangeiros que vieram ao país até junho.

Desse modo, o impacto no setor preocupa, especialmente porque o turismo internacional injeta bilhões de reais na economia. Em 2024, o país recebeu 6,7 milhões de turistas, alta de 14,6% ante o ano anterior. Destes, 728 mil vieram de EUA, Canadá e Austrália, número que crescia ano a ano até a nova exigência.

Medida gerou reação no Congresso

A decisão do governo Lula de restabelecer os vistos foi baseada no princípio da reciprocidade. Assim, a expectativa era que os países dispensassem a exigência também para brasileiros, o que não ocorreu. Nesse sentido, apenas o Japão recuou e passou a isentar o visto, após negociação diplomática.

A exigência de visto, no entanto, virou alvo de críticas no Senado, onde foi aprovado um projeto para anular a decisão. A proposta é de autoria do senador Carlos Portinho (PL-RJ) e tem como relator Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que defende a isenção como motor de crescimento do turismo.

Mesmo com o aval do Senado, o projeto segue parado desde março na Câmara. A tramitação está travada na Comissão de Relações Exteriores, sob relatoria de Marcel Van Hatten (Novo-RS). Portanto, o texto ainda precisa passar pela CCJ e pelo plenário da Casa, sem previsão de votação.

Itamaraty é contra suspensão da exigência

Em nota enviada ao Congresso, o Itamaraty se posicionou contra o projeto que derruba os vistos. Para o Ministério das Relações Exteriores, a isenção unilateral fere os princípios da reciprocidade e igualdade de tratamento na política migratória do Brasil.

Além disso, o governo argumenta que não houve crescimento expressivo no número de turistas após a isenção feita no governo Bolsonaro. Em 2019, esses países representaram 8,8% dos visitantes internacionais. Em 2024, o percentual ficou em 8,4%, praticamente estável.

Por outro lado, entidades do setor turístico afirmam que qualquer exigência burocrática, como o visto, desestimula viagens de curto prazo e prejudica estados e municípios que dependem da atividade. Desse modo, a taxa atual de US$ 80 por visto (cerca de R$ 400) também é considerada um entrave.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.