
- Petrobras (PETR4) aguarda licença para iniciar perfuração na Bacia da Foz do Amazonas.
- O Amapá espera multiplicar seu PIB em até dez vezes com o petróleo.
- ONGs alertam para riscos aos manguezais e recifes amazônicos em caso de vazamento.
O Amapá vive dias de expectativa com o avanço da Petrobras (PETR4) na Bacia da Foz do Amazonas. Em Oiapoque, cidade de 25 mil habitantes na fronteira com a Guiana Francesa, cresce o movimento de trabalhadores e investidores atraídos pela promessa de bilhões em royalties.
A estatal aguarda o licenciamento ambiental do Ibama para iniciar a perfuração do poço Morpho 1-APS-57, que pode marcar o início de uma nova fronteira petrolífera no Norte do país. Por enquanto, o otimismo convive com preocupações ambientais e ceticismo global sobre os combustíveis fósseis.
Aposta bilionária e sonho amapaense
A Bacia da Foz do Amazonas integra a Margem Equatorial, uma faixa de 2.200 km de litoral que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, abrigando 42 blocos de exploração. Nessa mesma região, países vizinhos como Guiana e Suriname vivem um boom do petróleo, com descobertas que somam mais de 11 bilhões de barris.
No Brasil, a Petrobras estima investir US$ 3 bilhões entre 2025 e 2028 na Margem Equatorial. Além disso, o governo do Amapá acredita que a extração na costa poderá multiplicar por dez o PIB estadual na próxima década. Hoje, o estado tem R$ 22 bilhões de PIB, um dos menores do país, e metade da população depende do Bolsa Família.
“O mundo todo está olhando para o Amapá por causa do petróleo. Só a presença da Petrobras já trouxe movimento econômico, hotéis cheios e novos negócios”, disse o governador Clécio Luís ao Brazil Journal.
Oiapoque, o novo epicentro
Em Oiapoque, a presença da Petrobras já mudou o cotidiano. O aeroporto local foi assumido pela estatal, que recebe voos diários de Macapá com técnicos e engenheiros. De lá, helicópteros seguem para o navio-sonda NS-42, posicionado a 170 km da costa, em alto-mar.
O presidente da Transpetro, Sérgio Bacci, acredita que o impacto será imediato: “Quando começarem as operações, vai haver um boom de negócios no Amapá. Vai mudar a cara do estado.”
Por outro lado, os preços de aluguel e alimentação já começaram a subir. Desse modo, em uma cidade cercada por floresta e dependente de insumos externos, o petróleo trouxe euforia e inflação.
O impasse ambiental
Apesar da pressão política favorável, o projeto enfrenta resistência ambiental. Em 2023, o Ibama rejeitou o primeiro pedido de licença da Petrobras, exigindo novos estudos. Em setembro de 2025, o órgão aprovou uma simulação de emergência na Foz do Amazonas, mas ainda requer ajustes antes da perfuração.
“Esperamos que a licença saia até outubro. Cada dia parado custa US$ 500 mil com o aluguel da sonda”, afirmou Bacci, da Transpetro.
Ambientalistas, no entanto, alertam para riscos graves de vazamento. Segundo o WWF Brasil, um acidente poderia atingir 80% dos manguezais da costa brasileira, comunidades indígenas e o sistema recifal amazônico. “A importância ecológica da região ainda é pouco conhecida”, explica Ricardo Fujii, especialista em conservação.
Entre o ouro e o petróleo
Enquanto aguarda o futuro do petróleo, Oiapoque ainda vive do comércio de fronteira com a Guiana Francesa e do garimpo ilegal. Assim, o real desvalorizado atrai consumidores estrangeiros, e os rios contaminados pelo ouro contrastam com os sonhos de riqueza do novo ciclo energético.
“Está vindo gente com dinheiro, comprando terrenos e abrindo negócios”, diz Luiz Lobato da Silva, barqueiro há 38 anos no Oiapoque. “A população quer desenvolvimento, mais dinheiro e uma vida melhor.”
Por fim, a questão é se o ouro negro da Amazônia trará prosperidade, ou novos desafios para uma das regiões mais preservadas do país, onde 74% do território ainda é floresta intacta e o desmatamento foi zero em 2024, segundo o INPE.