Comércio em crise

Em meio a tarifaço, Brasil perde força no comércio com a China e vê risco de apagão nas exportações; Real pode desvalorizar

Tensões geopolíticas e dependência de commodities expõem vulnerabilidade da balança comercial do Brasil

China
Crédito: Depositphotos

Em meio às turbulências do comércio internacional e à escalada de tensões com os Estados Unidos, o Brasil enfrenta uma queda histórica nas exportações para a China. Segundo dados divulgados nesta semana, o volume exportado para o maior parceiro comercial do país registrou a maior retração dos últimos dez anos, sinalizando um alerta vermelho para a fragilidade estrutural da pauta exportadora brasileira.

Apagão nas exportações

A redução das compras chinesas foi puxada, sobretudo, por produtos primários como minério de ferro, soja e petróleo — três pilares que há anos sustentam os números da balança comercial brasileira. Esse recuo acontece num momento em que o governo Lula tenta minimizar os efeitos do chamado “tarifaço” anunciado por Donald Trump, que deve entrar em vigor no início de agosto, impondo alíquotas de até 50% sobre produtos brasileiros. Embora as tarifas visem diretamente o comércio com os EUA, os reflexos sobre outros mercados, como a China, já começam a ser sentidos.

Especialistas apontam que a dependência excessiva de poucos produtos e de poucos destinos coloca o Brasil em posição extremamente vulnerável no cenário global. A desaceleração da economia chinesa, combinada com o fortalecimento de fornecedores concorrentes — como a Austrália no caso do minério e os Estados Unidos na soja — também contribuiu para o tombo. Outro agravante é o avanço das indústrias chinesas em direção à autossuficiência, o que reduz a necessidade de importações de commodities básicas.

Real pode ser prejudicado com menos exportações

Para analistas do setor, o recuo nas exportações deve provocar uma reação em cadeia. Com menor entrada de divisas, o câmbio pode sofrer novas pressões, além de comprometer a arrecadação pública. “Não é apenas uma queda momentânea. É um sinal de que o modelo de exportação baseado em commodities está esgotado”, alerta um economista da FGV. Ele lembra que a última vez em que houve uma retração dessa magnitude nas vendas para a China foi em 2015, durante a crise de confiança da ex-presidente Dilma Rousseff.

Apesar das tentativas do Itamaraty de abrir novos canais comerciais, como o reforço das relações com a Índia, Indonésia e países do Oriente Médio, o processo de diversificação é lento e depende de acordos bilaterais, certificações sanitárias e infraestrutura logística. Ao mesmo tempo, o agronegócio, um dos maiores motores das exportações nacionais, vê com apreensão o risco de represálias e restrições ambientais impostas por mercados mais exigentes.

Na tentativa de reverter o quadro, o governo brasileiro busca acelerar a diplomacia comercial. Lula já sinalizou conversas com a liderança chinesa para reequilibrar o fluxo de comércio e reduzir as perdas. Internamente, há discussões sobre um plano de incentivo à agregação de valor agregado nas exportações, com foco em industrialização e inovação. No entanto, até que medidas concretas sejam implementadas, o país permanece à mercê das oscilações externas.

O cenário atual, portanto, escancara uma dependência perigosa e crônica da economia brasileira. Em vez de diversificar sua pauta exportadora ao longo da última década, o país aprofundou sua concentração em produtos de baixo valor agregado. Agora, com a combinação de um tarifaço norte-americano, uma China menos dependente de commodities e a ausência de uma política comercial robusta, o Brasil se vê acuado. A fragilidade está exposta — e cobrar medidas urgentes não é mais uma opção, mas uma necessidade.

Fernando Américo
Fernando Américo

Sou amante de tecnologias e entusiasta de criptomoedas. Trabalhei com mineração de Bitcoin e algumas outras altcoins no Paraguai. Atualmente atuo como Desenvolvedor Web CMS com Wordpress e busco me especializar como fullstack com Nodejs e ReactJS, além de seguir estudando e investindo em ativos digitais.

Sou amante de tecnologias e entusiasta de criptomoedas. Trabalhei com mineração de Bitcoin e algumas outras altcoins no Paraguai. Atualmente atuo como Desenvolvedor Web CMS com Wordpress e busco me especializar como fullstack com Nodejs e ReactJS, além de seguir estudando e investindo em ativos digitais.