Peso das dívidas

Endividamento das famílias brasileiras sobe pelo 5º mês e atinge 78,4% em junho

Classe média baixa lidera aumento das dívidas, enquanto mais famílias enfrentam dificuldades para pagar o que devem.

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  • Endividamento das famílias subiu para 78,4% em junho, o maior nível dos últimos cinco meses.
  • Classe média baixa foi a mais impactada, com alta também na inadimplência.
  • Cartão segue como principal dívida, mas carnês ganham espaço entre os consumidores.

O peso das dívidas voltou a crescer no bolso do brasileiro em junho. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o número de famílias endividadas subiu pelo quinto mês seguido e chegou a 78,4%. A classe média baixa foi a que mais sentiu esse aumento, tanto no endividamento quanto na inadimplência.

Dívidas crescem, mas inadimplência fica estagnada

O estudo divulgado nesta semana pela CNC mostra que o percentual de famílias com dívidas a vencer subiu de 78,2% em maio para 78,4% em junho. Embora o avanço pareça pequeno, ele confirma a tendência de alta registrada nos últimos cinco meses.

Apesar disso, a inadimplência — ou seja, as contas que já estão em atraso — permaneceu no mesmo nível: 29,5%. Em comparação com junho de 2024, houve um leve aumento de 0,7 ponto percentual. Isso indica que mais pessoas estão contraindo dívidas, mas muitas ainda conseguem evitar o atraso.

Por outro lado, a percepção de endividamento piorou. A fatia de pessoas que se declaram “muito endividadas” passou de 15,5% para 15,9% entre maio e junho. Esse dado reforça que, mesmo sem um salto expressivo na inadimplência, a pressão emocional e financeira segue alta.

Famílias de baixa renda sentem mais

O maior impacto foi registrado nas famílias com renda de até cinco salários mínimos mensais. No grupo que recebe até três salários, a taxa de endividados subiu de 81,0% para 81,1%. Já na faixa entre três e cinco salários, o salto foi mais expressivo: de 80,3% para 80,9%.

Esses dados indicam que, além de contraírem mais dívidas, essas famílias também estão ficando mais inadimplentes. Na classe média baixa, a proporção de contas em atraso passou de 28,9% para 29,4%. Ou seja, mesmo com pouco espaço no orçamento, muitas famílias seguem recorrendo ao crédito.

Na contramão, os grupos com renda mais alta mostraram uma leve melhora. Famílias que ganham acima de 10 salários mínimos apresentaram queda no endividamento, passando de 67,6% para 67,5%, e também reduziram a inadimplência de 15,0% para 14,9%.

Dívidas mais curtas e menos comprometedores

Mesmo com o aumento no número de endividados, houve uma melhora em outros indicadores. O tempo médio de atraso nas contas caiu ligeiramente, de 64,3 para 64,1 dias. Além disso, a fatia de famílias com dívidas vencidas há mais de 90 dias recuou para 47,3%.

Outro ponto positivo foi a redução no comprometimento da renda com dívidas. A proporção de famílias que gastam mais da metade da renda para pagar o que devem caiu para 19,2%. A média nacional de comprometimento baixou de 29,8% para 29,6%.

Esses dados sugerem que as famílias, embora mais endividadas, estão optando por prazos mais curtos e valores menores. Isso pode ser uma tentativa de se proteger diante de um cenário de juros altos e inflação ainda pressionando o orçamento doméstico.

Cartão ainda domina, mas carnês crescem

O cartão de crédito segue como a principal forma de endividamento. Ele foi citado por 83,3% dos endividados em junho. Apesar disso, perdeu espaço em relação a junho do ano passado, quando aparecia com 86,4%.

Enquanto isso, os carnês voltaram a crescer. Eles foram mencionados por 17% dos entrevistados, contra 16% um ano antes. Esse movimento mostra que muitos consumidores estão buscando opções de parcelamento fora do sistema bancário, muitas vezes para compras básicas.

A CNC também observa uma mudança no perfil do crédito. As famílias estão priorizando dívidas de curto prazo, o que revela preocupação com os custos do crédito mais prolongado. A tendência é de maior controle, mas com espaço limitado para o consumo.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.