Risco global

Entenda como o tarifaço dos EUA jogou as exportações brasileiras no vermelho após quase 2 anos

Indústria nacional enfrenta primeira retração nas vendas externas desde 2023, em meio ao impacto direto da nova política comercial americana.

porto e exportações
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  • Exportações devem cair pela primeira vez desde 2023 com índice de 46,6 pontos
  • Tarifaço dos EUA em até 50% atinge metade das exportações brasileiras ao país
  • Emprego e investimento recuam enquanto produção mantém crescimento moderado

As exportações da indústria brasileira devem encolher nos próximos seis meses. Pesquisa divulgada nesta quarta-feira (20) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o índice de expectativa caiu 5,1 pontos em agosto, para 46,6 pontos, abaixo da linha de crescimento.

É a primeira projeção negativa desde novembro de 2023, encerrando uma sequência de 21 meses de otimismo. O resultado indica que o setor exportador deve enfrentar um semestre desafiador, em meio a turbulências externas e tensões comerciais crescentes.

O peso do tarifaço americano

A nova política comercial dos Estados Unidos é apontada como o principal fator para a piora das expectativas. Desde o início de agosto, quase metade das exportações brasileiras destinadas ao mercado americano passou a ser taxada em até 50%.

Ademais, em 2024 essas exportações somaram US$ 17,5 bilhões. Agora, o tarifaço pressiona a competitividade da indústria nacional, que encontra dificuldades em repassar custos e preservar margens.

Nesse sentido, o mercado americano é um dos principais destinos dos bens manufaturados brasileiros, e a imposição de tarifas dessa magnitude gera impactos diretos nas cadeias produtivas e nos resultados das empresas.

Portanto, esse choque externo também altera o planejamento de médio prazo da indústria, que se vê obrigada a reavaliar mercados alternativos e estratégias de exportação. A CNI reforça que, sem uma solução diplomática, o setor tende a perder espaço.

Emprego e investimentos em risco

A pesquisa mostrou que o índice de expectativa de empregos caiu 2 pontos, para 49,3, sinalizando retração no mercado de trabalho industrial. Esse dado indica que a geração de postos de trabalho tende a estagnar no curto prazo.

Além disso, a intenção de investimento recuou para 54,6 pontos, o menor nível desde outubro de 2023, ainda que acima da média histórica. O recuo mostra que os empresários estão mais cautelosos diante da incerteza.

Sendo assim, o ambiente menos favorável para exportações e emprego reflete também no clima de confiança do setor. A percepção de risco sobre os negócios aumenta e pode travar planos de expansão no segundo semestre.

Desse modo, com menos estímulo externo e instabilidade nas relações comerciais, a indústria teme um ciclo de desaquecimento prolongado, com efeitos em toda a cadeia econômica.

Produção resiste, mas confiança enfraquece

Apesar do cenário negativo, a produção industrial registrou crescimento em julho, com índice de 52,6 pontos, acima da linha de 50. O aumento em relação a junho mostra que a atividade mantém algum fôlego.

Ademais, a utilização da capacidade instalada se manteve em 71%, estável frente ao mês anterior e superior ao nível observado em julho de 2023. Os estoques industriais também estão ajustados, próximos do planejado.

Mesmo assim, a confiança não acompanha os números de produção. Empresários relatam dificuldade em conciliar a demanda interna com os impactos externos, o que limita a visão de crescimento sustentável.

Por fim, o resultado é um ambiente de cautela, onde a recuperação produtiva perde força diante do peso das tarifas e da incerteza internacional.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.