Déficit bilionário

Estatais acumulam rombo bilionário próximo de R$ 3 bi, valor recorde em 2025

Deficit de R$ 2,73 bilhões no primeiro quadrimestre é o maior desde o início da série histórica do Banco Central, acendendo alerta sobre a saúde financeira das empresas públicas.

media salarial em estatais
media salarial em estatais
  • Estatais não financeiras tiveram deficit de R$ 2,73 bilhões entre janeiro e abril, o maior da série histórica.
  • Governo afirma que resultado fiscal não reflete lucro contábil de empresas como Serpro e Dataprev.
  • Especialistas apontam má gestão, baixa eficiência e uso político como fatores que explicam os sucessivos déficits.

As estatais federais brasileiras registraram, entre janeiro e abril de 2025, o maior rombo fiscal da série histórica iniciada em 2002. Segundo o Banco Central, o deficit acumulado chegou a R$ 2,73 bilhões — um aumento de quase 63% em relação ao mesmo período do ano passado.

Resultado fiscal acende sinal vermelho

O número é preocupante. Representa não apenas o maior rombo em mais de duas décadas, mas também uma trajetória crescente. Em 2023, o deficit no primeiro quadrimestre foi de R$ 1,84 bilhão. Já em 2024, caiu ligeiramente para R$ 1,68 bilhão. Agora, em 2025, saltou para patamares históricos.

Esses dados constam no relatório “Estatísticas Fiscais” do Banco Central, divulgado em 31 de maio. O levantamento exclui estatais financeiras como Banco do Brasil, Caixa e BNDES, além da Petrobras. Portanto, o número se refere apenas às chamadas “empresas não dependentes”.

Apesar de excluídas as gigantes, o impacto nas contas públicas não é menor. Abril sozinho teve um rombo de R$ 977 milhões. O valor eleva a preocupação sobre a eficiência operacional e a saúde fiscal das empresas públicas sob gestão direta do governo federal.

Governo contesta metodologia

Em meio à divulgação dos dados, o governo Lula reagiu. A ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, argumentou que a metodologia utilizada pelo Banco Central — conhecida como “abaixo da linha” — não reflete adequadamente o desempenho contábil das estatais.

Segundo ela, essa abordagem fiscal ignora o lucro líquido das empresas. Esther citou o exemplo do Serpro, que teve lucro de R$ 685 milhões em 2024, e da Dataprev, com R$ 508,2 milhões. Ainda que esses números sejam positivos nos balanços contábeis, as empresas aparecem como deficitárias na leitura do Banco Central por apresentarem aumento na necessidade de financiamento.

A ministra destacou ainda que, das 11 estatais listadas como deficitárias em 2024, nove fecharam o ano no azul. Para ela, é equivocado comparar receitas e despesas anuais de forma isolada, sem considerar investimentos ou amortizações.

Rombo fiscal e a dívida pública

Independentemente da divergência metodológica, os dados do Banco Central mostram que o deficit das estatais pressionou o aumento da dívida bruta do país. Em abril, a dívida total do setor público consolidado atingiu R$ 9,2 trilhões, o equivalente a 76,2% do Produto Interno Bruto (PIB).

Mesmo com esse peso, o setor público conseguiu um superávit primário de R$ 14,1 bilhões no mês, puxado por alta arrecadação. Contudo, economistas alertam que déficits sistemáticos nas estatais podem reduzir a capacidade do governo de cumprir metas fiscais.

Além disso, o desempenho fraco das estatais reflete falhas na política de governança, sobretudo em áreas que exigem maior digitalização e autonomia financeira. A baixa eficiência operacional acaba obrigando o Tesouro a cobrir buracos de gestão e gastos recorrentes.

Reflexo de má gestão e baixa produtividade

Especialistas apontam que, embora algumas empresas mostrem lucro no papel, esse ganho pode vir de receitas extraordinárias, como venda de ativos ou ajustes contábeis. Na prática, os déficits recorrentes sinalizam uma fragilidade estrutural na gestão de parte das estatais.

A ausência de metas claras, os cargos ocupados por indicações políticas e o uso dessas empresas como instrumentos de políticas públicas sem contrapartida financeira impactam diretamente nos resultados. Além disso, investimentos mal planejados e baixa produtividade agravam o cenário.

O desafio do governo, agora, será reverter esse quadro sem recorrer a cortes bruscos ou à venda de ativos estratégicos. Melhorar a governança, profissionalizar quadros técnicos e ampliar a transparência são medidas apontadas como essenciais por especialistas para recuperar a saúde financeira dessas estatais.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.