
- Dólar disparou a 1.400 pesos e governo Milei recuou da promessa de não intervir no câmbio
- Medidas emergenciais podem segurar o peso no curto prazo, mas não resolvem a inflação estrutural
- Confiança do mercado e da população está em jogo, com riscos sociais e políticos crescentes
A Argentina atravessa uma das piores crises cambiais de sua história recente. Na terça-feira (2), o dólar chegou a alcançar 1.400 pesos, disparando e expondo a inflação descontrolada, a fuga de capitais e a perda acelerada do poder de compra.
O governo de Javier Milei, que havia prometido não intervir no câmbio, anunciou medidas emergenciais para tentar conter a derretida da moeda. A decisão marca um recuo de sua política mais liberal e reforça o peso da pressão social e política diante do cenário.
Promessa vs realidade: a não intervenção que durou pouco
No início do mandato, Milei defendia a abertura total da economia, com câmbio livre e mínima presença do Estado. O discurso agradou investidores que esperavam reformas estruturais para estabilizar preços e atrair capital.
A realidade, porém, foi outra. A inflação continuou corroendo salários, a volatilidade aumentou e a desvalorização do peso gerou instabilidade política. O custo social da estratégia de não intervenção se tornou insustentável.
Agora, o governo admite que o câmbio flutuante sem limites não trouxe estabilidade e foi obrigado a voltar atrás. Para analistas, essa mudança representa um golpe duro na credibilidade da política econômica.
As medidas de intervenção anunciadas
Entre as ações divulgadas, estão operações de compra e venda de dólares pelo Banco Central, com objetivo de reduzir a pressão no mercado. Essa prática busca segurar a disparada cambial ao aumentar a oferta de moeda americana.
Além disso, o governo prometeu estabelecer novas regras fiscais e cambiais, limitar transações externas e conceder subsídios a setores sensíveis, com o objetivo de evitar que repassem a escalada do dólar diretamente ao consumidor.
O governo também prepara ajustes em tarifas públicas, tentando conter o impacto imediato nos preços e segurar parte da inflação. Ainda assim, economistas veem essas medidas como paliativas e de efeito limitado.
Impactos imediatos para economia e população
O primeiro efeito visível é o aumento dos preços de importados, como combustíveis, remédios e alimentos industrializados. Para famílias que recebem em pesos, o poder de compra desaba.
Empresas que dependem de insumos externos enfrentam custos mais altos, o que pode levar a cortes de produção, demissões e menor competitividade. Sendo assim, exportadores, por outro lado, podem ganhar fôlego com o câmbio mais favorável.
Desse modo, no campo político cresce o risco de instabilidade: protestos podem se intensificar e a confiança internacional no país fica mais frágil diante da incerteza.
Especialistas avaliam o ponto de virada
Economistas consideram que o patamar de 1.400 pesos por dólar marca uma crise de confiança generalizada. Já não se trata apenas de desequilíbrios setoriais, mas de descrédito na condução da política econômica.
Para eles, a intervenção pode aliviar o câmbio no curto prazo, mas só terá efeito duradouro se vier acompanhada de ajustes fiscais e monetários mais profundos. Além disso, transparência na comunicação e disciplina com gastos públicos são vistos como essenciais.
Caso contrário, a desvalorização pode retornar ainda mais forte, corroendo reservas internacionais e intensificando a crise. Portanto, o dilema de Milei é equilibrar medidas de urgência sem perder totalmente a narrativa liberal.
Ponto final: a intervenção como sobrevivência
Para o governo argentino, intervir não é mais uma escolha ideológica, mas uma necessidade de sobrevivência.
Ademais, a promessa de câmbio livre ficou para trás, substituída pela urgência de proteger a população e preservar a credibilidade institucional.
A partir daqui, os próximos meses dirão se as medidas serão suficientes para restaurar a confiança ou se a crise cambial entrará em nova fase. Por fim, o impacto sobre a política de Milei e sobre a posição internacional da Argentina será inevitável.