
- FMI elevou a previsão de crescimento do Brasil em 2026 para 2,1%, mas sem considerar tarifas americanas.
- Tarifaço de 50% prometido pelos EUA pode derrubar projeções e afetar exportações brasileiras.
- Selic alta, incertezas fiscais e pressão externa limitam o fôlego da economia nacional.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou nesta terça-feira (29) sua projeção de crescimento para o Brasil em 2026, embora tenha mantido o alerta para uma desaceleração à frente. Segundo o relatório Perspectiva Econômica Global, a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no período passou de 2,0% para 2,1%.
No entanto, a atualização não leva em consideração o tarifaço de 50% prometido pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, previsto para entrar em vigor ainda esta semana. A ausência desse impacto nas projeções preocupa analistas e reforça a incerteza sobre o real fôlego da economia nos próximos anos.
Projeção sobe, mas cenário é de cautela
A melhora na estimativa para 2026 representa um avanço tímido de 0,1 ponto percentual em relação ao relatório de abril. Apesar disso, a nova projeção do FMI ainda sinaliza uma leve desaceleração em comparação à expansão de 2,3% prevista para 2025. A leitura confirma o desafio de manter um crescimento sustentável diante de fatores internos e externos que pressionam a economia.
Vale lembrar que o FMI já havia revisado para cima sua expectativa para o PIB brasileiro em 2025 no relatório de junho. O salto anterior, de 2,0% para 2,3%, ocorreu após reuniões com autoridades brasileiras durante a “Consulta do Artigo IV”, uma análise periódica sobre as finanças do país.
O documento explica que todas as estimativas consideram apenas políticas comerciais em vigor. Ou seja, medidas temporárias, suspensas ou ainda não implementadas, como o aumento das tarifas dos EUA, foram ignoradas nas contas atuais.
Portanto, as novas barreiras comerciais prometidas por Donald Trump ainda não integram o cenário-base do FMI. Mesmo assim, a instituição reforça que revisará os números se as medidas forem aplicadas conforme o previsto.
Tarifas americanas podem mudar tudo
A exclusão do tarifaço americano da projeção tem chamado a atenção de especialistas. A decisão dos EUA de impor tarifas de 50% sobre diversos produtos brasileiros pode reduzir significativamente o desempenho das exportações nacionais. Como consequência, a economia real sentiria o baque nos setores produtivos.
Além disso, o Brasil tem enfrentado dificuldades diplomáticas para reverter ou negociar as sanções comerciais com o governo norte-americano. Até o momento, não houve progresso significativo nesse diálogo. A falta de resposta efetiva também contribui para o aumento da percepção de risco externo no país.
As estimativas do FMI contrastam ainda com as do Ministério da Fazenda. O governo brasileiro projeta crescimento de 2,4% em 2026, levemente abaixo dos 2,5% estimados anteriormente. Para 2025, o número foi revisado para cima: de 2,4% para 2,5%, conforme atualização publicada neste mês.
Caso o tarifaço se concretize, essas projeções podem cair rapidamente. Com isso, a credibilidade das metas fiscais e dos programas de estímulo pode ficar comprometida.
Juros altos e crescimento moderado
Outro fator que pesa sobre a atividade econômica do Brasil é o atual nível da taxa Selic, que se mantém em 15%. Essa política monetária mais rígida limita o crédito, reduz o consumo e impacta os investimentos. O Banco Central, até agora, não sinalizou redução da taxa, o que reforça a expectativa de crescimento modesto.
Por outro lado, o mercado de trabalho segue apresentando números robustos. A taxa de desemprego está em queda e o número de trabalhadores formais subiu no primeiro semestre, o que ajuda a sustentar a renda das famílias. Essa resiliência pode compensar, em parte, os efeitos negativos da política monetária e da instabilidade internacional.
O IBGE divulgará os dados do segundo trimestre em 2 de setembro. Até o momento, o crescimento de 1,4% no primeiro trimestre, frente aos três meses anteriores, foi bem recebido pelos analistas. Em 2024, a economia brasileira cresceu 3,4%.
Mesmo assim, os economistas seguem cautelosos. O ambiente externo adverso e as incertezas internas, como a situação fiscal, continuam desafiando a sustentabilidade da retomada.
América Latina avança, puxada pela China
No panorama regional, o FMI revisou a estimativa para o crescimento da América Latina e Caribe em 2025 de 2,0% para 2,2%. Para 2026, a projeção permaneceu em 2,4%. Os dados indicam que a região tende a avançar, mas ainda com ritmo abaixo do esperado para mercados emergentes em outras partes do mundo.
No grupo das Economias de Mercados Emergentes e em Desenvolvimento, do qual o Brasil faz parte, as projeções subiram para 4,1% em 2025 e 4,0% em 2026. A principal razão foi a revisão positiva do desempenho da China, que agora deve crescer 4,8% neste ano, 0,8 ponto a mais que o esperado anteriormente.
Esse salto chinês reflete resultados melhores que o previsto no primeiro semestre e a redução das tarifas impostas pelos EUA. A retomada do apetite chinês por commodities pode beneficiar indiretamente países exportadores, como o Brasil, desde que barreiras comerciais adicionais não atrapalhem essa relação.
Ainda assim, o Brasil precisa cuidar da sua estratégia externa e interna. Sem previsibilidade, o crescimento de 2,1% projetado para 2026 pode virar uma meta inalcançável.