Política monetária

Galípolo admite incômodo com inflação fora da meta e reforça juros altos por mais tempo

Durante evento na Indonésia, presidente do Banco Central sinalizou que o ciclo de aperto monetário seguirá firme até que a inflação volte ao centro da meta.

Gabriel Galípolo, Presidente do Banco Central, participa de palestra na Fundação Fernando Henrique Cardoso (IFHC), em São Paulo. — Foto ReproduçãoIFHC.
Gabriel Galípolo, Presidente do Banco Central, participa de palestra na Fundação Fernando Henrique Cardoso (IFHC), em São Paulo. — Foto ReproduçãoIFHC.
  • Galípolo admite incômodo com inflação fora da meta e promete manter política restritiva.
  • Selic deve permanecer em 15% por mais tempo, até haver convergência para a meta.
  • Inflação acumulada em 12 meses chega a 5,17%, pressionando expectativas até 2028.

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta quinta-feira (23) que a instituição está “bastante incomodada” com a inflação fora da meta, mesmo com o recente processo de desinflação no país. A fala ocorreu durante o Fórum Econômico Indonésia-Brasil, em Jacarta, onde o economista reforçou que a política monetária continuará restritiva por um período prolongado.

Segundo ele, a autoridade monetária permanece vigilante diante do cenário de preços ainda acima do esperado. “Estamos falando de uma inflação em processo de redução, mas que segue fora do que é a meta. O Banco Central tem sido diligente e tempestivo no combate a qualquer pressão inflacionária”, afirmou Galípolo.

Banco Central mantém tom duro

Sem indicar prazos para atingir o objetivo de 3% de inflação com margem de 1,5 ponto, Galípolo reforçou que o BC deve manter os juros elevados até que a convergência se consolide. A taxa Selic, atualmente em 15%, deve continuar nesse patamar “por um período prolongado”, conforme sinalizou o comunicado da última reunião do Copom.

Além disso, o cenário, segundo ele, ainda exige cautela, especialmente diante das incertezas fiscais e externas. “Mesmo com a economia crescendo de forma moderada, não há espaço para afrouxar a política monetária agora”, destacou o presidente do BC.

Desse modo, a fala reforça a percepção de que o ciclo de juros altos continuará por mais tempo do que o esperado, em meio à preocupação com as expectativas inflacionárias até 2028, que seguem acima do centro da meta, segundo a pesquisa Focus.

Inflação ainda pressiona

Os dados mais recentes do IBGE mostram que o IPCA subiu 0,48% em setembro, acumulando alta de 5,17% em 12 meses. Apesar de a tendência apontar desaceleração, o ritmo ainda é considerado elevado para os padrões da meta contínua.

De acordo com o relatório Focus, a projeção para o fechamento de 2025 é de 4,70%, e não há expectativa de convergência total antes de 2028. Esse descompasso tem sido o principal argumento para o BC manter o discurso conservador, mesmo sob críticas do governo e do setor produtivo.

Galípolo também lembrou que o Brasil atravessa uma fase de crescimento positivo com baixo desemprego, mas ressaltou que essa combinação não elimina o risco inflacionário. “O desafio é garantir estabilidade sem comprometer o ritmo da economia”, afirmou.

Missão econômica na Indonésia

A declaração de Galípolo ocorreu durante a visita da delegação brasileira à Indonésia, que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em compromissos bilaterais. O evento reuniu líderes empresariais e autoridades dos dois países em busca de acordos comerciais e financeiros.

Ademais, o chefe do Banco Central destacou que a credibilidade da política monetária é essencial para atrair investimentos internacionais, especialmente em setores de energia e infraestrutura. “A estabilidade macroeconômica é o que sustenta a confiança de quem aposta no Brasil”, afirmou.

Por fim, a participação de Galípolo no fórum reforçou a intenção do governo de aprofundar parcerias econômicas com países do Sudeste Asiático e diversificar os fluxos de comércio exterior.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.