Juros

Galípolo reforça permanência da Selic a 15%: "Ninguém quer baixar para ter inflação lá em cima"

Presidente do BC reafirma compromisso com meta de inflação de 3% e critica "flacidez institucional"

Galípolo reforça permanência da Selic a 15%: "Ninguém quer baixar para ter inflação lá em cima"

Em audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (9), o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse que “ninguém quer baixar os juros para ter inflação lá em cima.” A fala foi um recado à crescente pressão por flexibilização da política monetária, em meio a uma Selic de 15% ao ano e um IPCA (medidor da inflação) que já acumula oito meses acima do teto da meta.

Galípolo reiterou que o Banco Central não tem autonomia para ser leniente com a inflação e reforçou que a meta de 3% definida por decreto é um “comando legal”.

“Não é uma sugestão. A autoridade monetária tem o dever de buscar o centro da meta, não o teto. Relativizar isso seria institucionalmente perigoso”, alertou. Para ele, afrouxar esse compromisso significaria admitir que o Brasil é um país cuja moeda “perde valor ano a ano”.

Apesar das críticas que a política de juros elevados tem recebido, o presidente do BC defendeu a medida como necessária: “A gente não está subindo juros por prazer ou por alguma convicção ortodoxa. Estamos subindo porque os canais de transmissão da política monetária estão obstruídos.”

Segundo ele, subsídios cruzados e distorções históricas no sistema de crédito brasileiro comprometem a efetividade da política monetária. “Há empresas que conseguem captar abaixo da taxa livre de risco, enquanto famílias pagam 200% ao ano no rotativo. Isso retira potência do instrumento que temos para controlar a inflação.”

A crítica não veio sozinha. Galípolo reconheceu que não existe uma solução simples: “Não tem bala de prata. Essas distorções foram empilhadas ao longo do tempo. Vai exigir um conjunto de medidas para desmontar o que chamo de ‘vacinas’ contra os efeitos da política monetária.”

Sem recuo

O cenário é desafiador. Com a inflação acumulada em 5,32%, fora do intervalo de tolerância há oito meses, o Banco Central está em vias de descumprir oficialmente a meta inflacionária — um cenário que exige a publicação de uma carta explicativa ao Ministério da Fazenda, como previsto pelo novo regime de metas adotado em janeiro deste ano.

“Será a segunda carta em menos de seis meses que eu assinarei”, admitiu Galípolo. A primeira foi em janeiro, quando a inflação de 2024 fechou em 4,83%. A nova deverá ser publicada nos próximos dias, após a divulgação oficial do IPCA de junho pelo IBGE na quinta-feira (10).

Mesmo diante das críticas e do custo político de manter os juros elevados, o presidente do BC garantiu que não recuará: “Talvez eu não ganhe o prêmio de miss simpatia do ano de 2025. Mas estarei tranquilo porque o Banco Central está cumprindo seu mandato.”

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.