
- BC prevê juros altos por período prolongado para conter inflação
- Mercado de trabalho mais aquecido em 30 anos pressiona preços
- Instituição reforça compromisso com meta de 3% de inflação
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (6) que os juros elevados devem permanecer por um período prolongado no Brasil. Segundo ele, reduzir a taxa de forma precipitada poderia gerar “mais incerteza e volatilidade” na economia.
Em palestra no Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC), em São Paulo, Galípolo destacou que a inflação de serviços segue pressionada e que a instituição deve manter a política monetária firme até que os preços estejam mais próximos da meta de 3%.
Inflação e juros
O dirigente ressaltou que a decisão de manter os juros altos se apoia em dados recentes que mostram inflação acima do teto da meta. Ele citou que, em setembro, o IPCA-15 acumulou 5,32% em 12 meses, muito acima do objetivo perseguido pela autoridade monetária.
Galípolo afirmou que o desafio é lidar com um ambiente de forte demanda sem comprometer o controle da inflação. Nesse contexto, uma postura cautelosa é essencial para preservar a credibilidade do Banco Central e garantir previsibilidade ao mercado.
Desse modo, segundo ele, ainda que os juros estejam em nível “restritivo e elevado”, essa decisão é necessária para impedir que as pressões inflacionárias se tornem permanentes.
Mercado de trabalho aquecido
Durante a palestra, Galípolo destacou que o mercado de trabalho brasileiro vive o período mais forte das últimas três décadas. Esse aquecimento, embora positivo para a renda das famílias, tende a sustentar a inflação por mais tempo.
Além disso, ele apontou que o crescimento da população ocupada tem sido muito superior ao da população em idade de trabalho, o que pressiona salários e aumenta o consumo. Isso torna mais difícil a convergência da inflação para a meta.
Portanto, para o presidente do BC, a solução passa por ganhos de produtividade. Sem isso, alertou, a economia continuará enfrentando pressões de custo e riscos de desequilíbrio.
Reservas cambiais e credibilidade
Galípolo afirmou que o Banco Central possui reservas robustas para lidar com volatilidade no câmbio, mas ressaltou que não pode usar essa ferramenta como “muleta ou desculpa”.
Ademais, ele defendeu que a política monetária deve ser preventiva, não reativa, evitando “se emocionar” com indicadores de curto prazo. A mensagem foi de firmeza e cautela, reforçando o compromisso legal da instituição de perseguir a meta de 3% de inflação.
Por fim, segundo Galípolo, a credibilidade do Banco Central é o maior ativo e precisa ser preservada, mesmo em meio a pressões políticas e sociais por juros mais baixos.