Tensões entre ministérios

Governo dividido: cotas e restrições de exportações para reduzir preços no mercado

Ideia de cotas e impostos para exportações gera tensões entre ministérios, com a Agricultura e Fazenda resistindo à proposta.

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  • Governo divide-se sobre a proposta de restringir exportações de alimentos para reduzir preços internos
  • Ministério da Agricultura se opõe à intervenção, defendendo uma abordagem de longo prazo
  • Supercolheita de grãos e Plano Safra 2025/2026 são vistos como alternativas mais eficazes para controlar preços

O governo federal está profundamente dividido sobre a possibilidade de implementar restrições nas exportações de alimentos como medida para aumentar a oferta interna. E, consequentemente, reduzir os preços no mercado doméstico.

A proposta, que visa criar “cotas de exportação” e um imposto para o que exceder essas quantidades, foi discutida em reuniões no Palácio do Planalto, com a participação do Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Casa Civil. No entanto, a ideia gerou resistência significativa de três ministérios, sendo eles: Agricultura, Fazenda e Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

A proposta de restringir exportações

A criação de cotas de exportação é uma medida que busca garantir que uma quantidade suficiente de produtos alimentícios, como carne bovina, ovos, açúcar e café, permaneça no mercado interno. Assim, com o objetivo de reduzir seus preços. Esses produtos, em particular, estão com preços elevados no mercado doméstico. No entanto, o que motivou a discussão sobre possíveis intervenções.

De acordo com fontes do governo, a ideia é aplicar cotas para limitar as exportações desses alimentos e, ao mesmo tempo, criar um imposto sobre os excedentes.

A medida teria como objetivo aumentar a oferta desses itens no mercado interno, o que teoricamente reduziria os preços ao consumidor. No entanto, a proposta não é consensual dentro do governo. Assim, dividindo as opiniões entre diferentes ministérios e seus respectivos interesses.

Resistência interna à medida

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi um dos principais opositores da proposta. Demonstrando, portanto, uma posição firme contra a adoção de medidas interventivas para controlar os preços dos alimentos.

Fávaro chegou a afirmar que pedirá demissão caso o governo avance com “medidas extravagantes” nesse sentido. Ele e outros membros da ala contrária argumentam que intervenções desse tipo poderiam afetar negativamente a imagem do Brasil como fornecedor de alimentos para o mercado internacional.

A principal crítica da ala contrária é que as exportações de alguns produtos, como ovos, representam uma pequena parte da produção nacional. No caso dos ovos, por exemplo, as vendas externas representam apenas 0,4% da produção brasileira.

Isso sugere que as restrições à exportação desse produto não teriam um impacto significativo no mercado interno. Mas, poderiam prejudicar as relações comerciais do Brasil com outros países.

Outro argumento levantado pelos opositores é que a exportação de carne bovina se concentra principalmente em cortes dianteiros, que não têm relação com os cortes nobres, como a picanha, que foram foco da campanha eleitoral de 2022. Portanto, a medida de restringir as exportações de carne não traria os efeitos esperados sobre o preço desses cortes no mercado interno.

A visão de longo prazo: sem soluções rápidas

Para os ministros da Agricultura, Fazenda e Desenvolvimento, a solução para os altos preços no mercado interno não está em medidas abruptas, como a restrição de exportações, mas sim na confiança de que a “supercolheita” de grãos prevista para os próximos meses ajudará a estabilizar os preços.

Além disso, a elaboração de um Plano Safra robusto para o período 2025/2026 também seria fundamental para garantir a oferta contínua de alimentos e controlar a inflação dos produtos agrícolas.

Essa ala acredita que as medidas de intervenção no mercado podem ser contraproducentes, afetando a competitividade do Brasil no comércio internacional e desestabilizando a produção agrícola.

Eles defendem que o foco deve ser em políticas de longo prazo, que incentivem a produtividade e a competitividade do setor, em vez de soluções temporárias e, possivelmente, prejudiciais para o setor agrícola brasileiro.

Impactos no mercado

A ideia de restringir exportações de alimentos geraria impactos diretos nas relações comerciais do Brasil com outros países.

O Brasil é um dos maiores exportadores de carne, café e açúcar do mundo, e qualquer medida que interfira nesse fluxo pode afetar sua imagem como fornecedor confiável. Além disso, produtores e exportadores podem sentir o impacto de um aumento nos custos devido a impostos sobre as exportações que excederem as cotas estabelecidas.

Além disso, ao limitar a disponibilidade de certos produtos para os mercados internacionais, o Brasil poderia enfrentar represálias comerciais de outros países, o que poderia afetar negativamente as exportações em outros setores.

O futuro das políticas de controle de preços

Diante da divisão interna e da complexidade do cenário, o governo parece estar em busca de alternativas mais equilibradas para lidar com a inflação dos alimentos, sem recorrer a medidas drásticas que possam prejudicar a economia a longo prazo.

A pressão por resultados rápidos é grande, mas a solução pode estar em um planejamento estratégico que envolva mais do que simples intervenções no mercado.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.