
- Governo Lula prepara MP com crédito para empresas e compras públicas para mitigar impacto das tarifas dos EUA.
- Haddad se reunirá com o secretário do Tesouro americano na próxima semana para tentar reverter a crise.
- Atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA preocupa o governo e pode intensificar sanções e tarifaço contra o Brasil.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou nesta quarta-feira (6) que o pacote do governo Lula para responder ao tarifaço de 50% imposto pelos EUA incluirá medidas de crédito e compras públicas. Logo, segundo ele, o texto com as medidas já foi finalizado e será encaminhado ao presidente para edição via Medida Provisória.
Além das ações econômicas, Haddad adiantou que conversará com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, na próxima semana, em reunião remota. A depender do tom, o encontro poderá evoluir para negociações presenciais, em busca de uma trégua comercial.
Medidas imediatas e apoio financeiro
Durante entrevista a jornalistas em Brasília, Haddad afirmou que a proposta do pacote de ajuda já está pronta e seguirá ao Palácio do Planalto ainda nesta quarta-feira. O ministro indicou que a decisão final sobre o formato, se decreto ou MP, caberá ao presidente Lula, mas deu sinais de que a edição por Medida Provisória é o caminho mais provável.
Segundo Haddad, a medida provisória permitiria a entrada imediata em vigor das ações, o que é considerado fundamental para amortecer os efeitos da taxação. O plano envolve concessão de crédito para empresas afetadas e incremento nas compras públicas por parte do governo federal.
“O texto sai daqui hoje. Está pronto”, disse o ministro. “Provavelmente o ato do presidente será por medida provisória. Ele é quem vai julgar o momento.” Assim, o pacote também pode incluir propostas legislativas complementares para aprovação no Congresso.
Com isso, o governo tenta não apenas compensar os setores exportadores, mas também reforçar a posição do Brasil em meio à escalada comercial promovida por Washington, após acusações de perseguição política feitas por aliados de Jair Bolsonaro.
Conversa direta com os EUA
Além do pacote doméstico, Haddad aposta no diálogo internacional para evitar que o conflito se amplie. Ele revelou que fará uma reunião remota com Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, marcada para a próxima quarta-feira. A intenção é abrir um canal diplomático direto entre os dois países.
“Já recebemos o e-mail confirmando dia e hora. A reunião será remota”, disse Haddad. O ministro explicou que, se o tom da conversa for construtivo, a agenda poderá avançar para um encontro presencial com foco técnico e político.
Ademais, o governo brasileiro busca reverter ou pelo menos atenuar os efeitos das tarifas, que atingem setores estratégicos como alimentos, carnes, siderurgia e vestuário. A aposta em uma abordagem técnica sinaliza que o Planalto quer baixar a temperatura, ainda que as tensões políticas persistam.
Desse modo, Haddad destacou que qualquer avanço depende da disposição americana em separar questões comerciais de conflitos institucionais internos do Brasil, especialmente o processo judicial de Jair Bolsonaro no STF.
Bolsonaro e sanções na mira
Apesar da postura técnica, o ministro demonstrou preocupação com a atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. O parlamentar tem se reunido com aliados de Trump e feito campanha ativa por sanções ao Brasil, ao STF e a autoridades do governo Lula.
Além disso, segundo Haddad, essa movimentação enfraquece a posição brasileira e coloca em risco setores produtivos que dependem das exportações para o mercado americano. O ministro fez um apelo público a empresários e governadores ligados ao bolsonarismo para que ajam com responsabilidade.
“É importante que todos que têm influência junto ao deputado peçam para que ele pare com essa atuação prejudicial ao país”, disse. Nesse sentido, Haddad reforçou que o governo está focado em evitar que a crise se transforme em uma guerra comercial sem retorno.
Por fim, a pressão internacional aumentou após Trump classificar o julgamento de Bolsonaro como “caça às bruxas” e justificar a imposição de tarifas com base em supostas violações de direitos democráticos no Brasil. As medidas também coincidiram com as sanções contra o ministro Alexandre de Moraes.