Em mais lençóis

Brasil vive "crise fiscal silenciosa", alerta instituto fiscal independente

Endividamento e carga tributária atingem níveis recordes; Marcus Pestana afirma que o país esgotou suas fontes de financiamento.

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  • Carga tributária chegou a 34,2% do PIB em 2024, maior nível da série histórica.
  • Dívida pública bruta subiu a 77,5% do PIB, equivalente a R$ 9,6 trilhões.
  • IFI alerta que ajuste fiscal é inadiável e deve envolver União, Estados e municípios.

A Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado fez um alerta nesta sexta-feira (10) sobre o risco de uma crise fiscal progressiva e silenciosa no Brasil. O diretor-executivo da entidade, Marcus Pestana, afirmou que o país vive deterioração nas contas públicas. Há alta da dívida bruta e aumento das despesas obrigatórias. As fontes tradicionais de financiamento, como impostos e endividamento, estão esgotadas.

Nesse sentido, o economista classificou o cenário como uma “crise lenta, progressiva, silenciosa e letal para o desenvolvimento”. Ele ressaltou que o ajuste fiscal é urgente e deve envolver União, Estados e municípios.

Carga tributária e dívida pública em trajetória ascendente

De acordo com nota técnica divulgada pela IFI, a carga tributária brasileira atingiu 34,2% do PIB em 2024, o maior nível desde o início da série histórica. Em 1991, o índice era de apenas 23,5% do PIB, o que representa uma alta de 10,7 pontos percentuais em pouco mais de três décadas.

O avanço foi puxado principalmente pelos impostos federais, cuja participação subiu de 14% para 21,4% do PIB no período. Já os tributos estaduais e municipais também cresceram, refletindo o aumento das receitas regionais e o maior peso de encargos sobre o consumo.

Paralelamente, a dívida bruta do governo geral chegou a 77,5% do PIB em agosto de 2025, segundo dados do Banco Central. Sob o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o indicador aumentou 5,8 pontos percentuais, voltando a níveis próximos aos observados durante a pandemia.

Em valores absolutos, o endividamento ultrapassa R$ 9,6 trilhões, ampliando a pressão sobre o Tesouro Nacional e restringindo a capacidade de investimento do Estado.

“Não há mais espaço para adiar soluções”, diz Pestana

Na avaliação de Marcus Pestana, as despesas obrigatórias e os déficits primários recorrentes estão comprimindo o espaço fiscal para investimentos e colocando em risco o crescimento sustentável da economia.

“Há graves restrições e consequências importantes que mais cedo ou mais tarde se apresentarão, se a rota não for alterada. Chegará um momento em que adiar soluções não será mais possível”, declarou o diretor-executivo.

A IFI defende que o país busque superávits primários sucessivos para conter o avanço da dívida e recuperar a credibilidade fiscal. O órgão afirma que o “engessamento orçamentário” impede o governo de investir em educação, inovação e infraestrutura.

Estados e municípios também precisam ajustar as contas

O relatório da IFI também destaca a dimensão federativa da crise. Embora muitos Estados e municípios apresentem situação fiscal mais equilibrada que a União, continuam dependentes de socorros federais.

Ademais, nos últimos anos, o Congresso Nacional aprovou medidas de alívio temporário, como a Lei Complementar 212/2025 e a Emenda Constitucional 136/2025, que limitaram o pagamento de precatórios e alongaram dívidas regionais.

Por fim, a IFI alerta que a diferença fiscal entre os estados exige um esforço conjunto e coordenado de ajuste. O órgão destaca o aumento dos gastos sociais e o envelhecimento populacional como desafios centrais.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.