Desconfiança

Intervenção dos EUA não impede queda do peso argentino e pressão aumenta sobre Milei

Mesmo com o Tesouro dos EUA comprando pesos para conter a desvalorização, a moeda argentina segue em queda diante da instabilidade política e das eleições próximas.

Intervenção dos EUA não impede queda do peso argentino e pressão aumenta sobre Milei
  • Peso argentino cai 3,4%, mesmo após intervenção inédita do Tesouro dos EUA no câmbio oficial e paralelo.
  • Mercado mantém desconfiança, com investidores temendo nova desvalorização e incertezas nas eleições legislativas.
  • EUA preparam linhas de crédito e swap cambial de US$ 40 bilhões, mas analistas veem impacto limitado no curto prazo.

O peso argentino voltou a cair nesta sexta-feira, apesar da tentativa inédita do Tesouro dos Estados Unidos de sustentar a moeda por meio de compras no mercado paralelo e oficial. A ação, anunciada pelo secretário Scott Bessent, não foi suficiente para conter a desvalorização, que atingiu 3,4% nas primeiras horas de negociação.

A intervenção ocorreu no câmbio conhecido como “blue chip swap”, usado por investidores para negociar ativos entre pesos e dólares fora do controle oficial. Mesmo assim, o mercado reagiu com ceticismo, e o movimento expôs a fragilidade da economia argentina às vésperas das eleições legislativas.

Tentativa de resgate e reação negativa do mercado

O secretário Scott Bessent confirmou publicamente a compra de pesos na quinta-feira, tanto na taxa oficial quanto no câmbio paralelo. Essa foi a primeira vez que o Tesouro americano admitiu intervir diretamente para tentar estabilizar a moeda argentina.

Apesar da medida, os títulos em dólar da Argentina perderam fôlego. Papéis com vencimento em 2035 caíram quase 0,1 centavo por dólar, sendo negociados a 57 centavos, segundo dados da Bloomberg. Para analistas locais, a intervenção indica o nível de preocupação dos EUA com a situação cambial e o risco político crescente.

A injeção de dólares não impediu que o peso seguisse sob forte pressão. Muitos argentinos continuam dolarizando suas economias, temendo uma nova desvalorização, mesmo com as tentativas de apoio internacional.

Contexto político e desconfiança dos investidores

O cenário político agrava o nervosismo. O partido do presidente Javier Milei enfrenta eleições legislativas decisivas após uma derrota regional em setembro. A oposição tenta transformar o resultado em um referendo contra as políticas de austeridade e liberalização cambial.

A incerteza aumentou após declarações do ex-presidente Donald Trump, que, em reunião com Milei, sugeriu que retiraria o apoio americano caso o governo argentino perdesse força política. Além disso, autoridades em Buenos Aires afirmam que a fala foi mal interpretada e se referia à reeleição de Milei em 2027, não às atuais negociações econômicas.

Desse modo, o episódio reforçou o clima de instabilidade e perda de confiança entre investidores estrangeiros, que veem o apoio dos EUA como essencial para evitar um colapso mais amplo no câmbio argentino.

Linhas de crédito e atuação dos bancos internacionais

Além das compras diretas de moeda, os Estados Unidos estudam estender uma linha de swap de US$ 20 bilhões para a Argentina, com o objetivo de aumentar as reservas internacionais. O plano inclui uma linha de crédito adicional de US$ 20 bilhões vinda do setor privado, em parceria com bancos globais.

Fontes do mercado indicam que o Citigroup vendeu pesos ao Federal Reserve na quinta-feira, enquanto o Banco Santander comprou moeda argentina em nome do Tesouro americano. Ainda não há informações sobre o volume exato das operações, mas o movimento reforça a tentativa de coordenação internacional para conter a crise.

Por fim, economistas alertam que as medidas são paliativas e que a recuperação real dependerá de ajustes estruturais internos e estabilidade política após as eleições.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.