Economia fraca

Investimento direto no Brasil desaba para o pior nível desde 2021

Entrada de capital produtivo encolhe 10,7% no semestre e recua 55,2% em junho; queda agrava saldo negativo nas contas externas.

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  • Investimento Direto no País somou US$ 33,8 bilhões no 1º semestre, queda de 10,7% ante 2024;
  • Em junho, o IDP foi de US$ 2,8 bilhões, com retração de 55,2% no comparativo anual;
  • Déficit externo somou US$ 5,1 bilhões no mês, e participação do IDP no PIB caiu para 3,14%.

O Brasil registrou, no primeiro semestre de 2025, a menor entrada líquida de Investimento Direto no País (IDP) em quatro anos. O total somou apenas US$ 33,8 bilhões, segundo dados do Banco Central divulgados nesta sexta-feira (25). Trata-se de uma retração de 10,7% em comparação ao mesmo período de 2024, quando o fluxo atingiu US$ 38 bilhões.

Essa é a pior marca desde 2021, ano de forte retração global causada pela pandemia. O IDP é um termômetro da confiança dos investidores estrangeiros na economia nacional, pois reflete aportes de longo prazo em setores produtivos — como abertura de fábricas, expansão de filiais e infraestrutura.

Queda sem precedentes reforça desconfiança estrutural

Diferentemente dos investimentos em ações e títulos, que oscilam com o mercado, o IDP representa compromissos duradouros. Por isso, a sua queda acende um alerta importante: o Brasil está perdendo espaço na rota global de investimentos produtivos. Além da desaceleração global, fatores internos contribuem para o recuo, como a instabilidade regulatória e o risco fiscal crescente.

Ainda que o país continue recebendo recursos, o ritmo vem desacelerando mês após mês. O valor atual é 34% inferior ao pico histórico do primeiro semestre, registrado em 2011, quando o país captou US$ 51,2 bilhões em apenas seis meses. O recuo de agora mostra que a atratividade do Brasil segue em queda diante de concorrentes emergentes mais estáveis e previsíveis.

Empresários e multinacionais tendem a buscar destinos mais seguros quando o cenário local parece incerto. Nesse contexto, mesmo com a taxa de câmbio favorável e juros relativamente altos, o capital produtivo evita compromissos de longo prazo no Brasil.

Junho agrava saldo externo com recuo de 55,2%

O desempenho de junho, em particular, foi ainda mais preocupante. O mês registrou entrada líquida de apenas US$ 2,8 bilhões em investimentos diretos, o que representa uma queda de 55,2% em relação a junho de 2024. Em termos práticos, o valor não foi suficiente para cobrir o déficit externo do mês.

De acordo com o Banco Central, o resultado foi composto por uma entrada líquida de US$ 6,4 bilhões em participação no capital e uma saída líquida de US$ 3,6 bilhões em operações intercompanhia, como transferências entre matriz e filial. Essa combinação resultou em saldo modesto e insuficiente.

Além disso, o déficit nas transações correntes somou US$ 5,1 bilhões em junho, ampliando a necessidade de financiamento externo. A queda no IDP, portanto, aumenta a pressão sobre o dólar e contribui para a deterioração do balanço de pagamentos.

Participação do IDP no PIB também recua

Apesar de o acumulado em 12 meses ainda indicar US$ 67 bilhões, o equivalente a 3,14% do PIB, a tendência é de retração. Em maio, esse número era maior: US$ 70,5 bilhões, ou 3,31% do PIB. Mesmo com leve crescimento frente aos US$ 64,9 bilhões de junho de 2024, o recuo recente chama atenção.

Analistas apontam que a redução do IDP está ligada à percepção de insegurança jurídica e à piora no ambiente regulatório. Esses fatores afastam investidores dispostos a se comprometer com o país no longo prazo. Além disso, a burocracia e os entraves políticos colaboram para afastar novos aportes.

Na prática, isso significa menos geração de empregos, menor expansão da indústria e perda de competitividade internacional. Sem a confiança dos grandes grupos econômicos, o Brasil se distancia ainda mais da agenda de crescimento sustentável e consistente.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.