Trégua diplomática

Lula e Trump surpreendem o mercado: real dispara e reacende corrida pelo crédito

Acordo inesperado entre Lula e Trump valoriza o real, impulsiona o Ibovespa e levanta expectativas sobre o custo do crédito no Brasil; mas especialistas alertam que o otimismo pode ser passageiro.

Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da República
Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da República
  • A trégua entre Lula e Trump impulsionou o real e o Ibovespa, mas ainda sem base sólida.
  • Crédito corporativo segue restrito e caro, mesmo com o câmbio mais favorável.
  • Economistas e CEOs pedem cautela e defendem avanços estruturais para sustentar o otimismo.

A surpreendente trégua diplomática entre Lula e Donald Trump virou o novo motor do mercado financeiro brasileiro. O gesto político, visto como um sinal de reaproximação comercial entre Brasil e Estados Unidos, valorizou o real, impulsionou o Ibovespa e reacendeu o otimismo com a economia.

Por trás da euforia, no entanto, há dúvidas sobre a sustentabilidade do movimento. Especialistas afirmam que a melhora do humor do mercado depende de avanços concretos na política econômica e que o efeito diplomático pode ser apenas passageiro se não houver medidas estruturais.

Real dispara, mas o crédito continua caro

Com o real fortalecido, o custo de captação externa caiu e o cenário de importações ficou mais favorável. Isso reduziu riscos cambiais e criou espaço para condições de crédito mais estáveis. O ambiente, em tese, favorece cortes graduais na taxa Selic e melhora a liquidez no mercado.

Mas o otimismo tem limites. Gabriel Padula, CEO da Everblue, afirma que o crédito corporativo “continua escasso e caro”, apesar da melhora do câmbio. Segundo ele, o momento é ideal para reorganizar dívidas, mas ainda é cedo para novos investimentos.

Para Jorge Kotz, da Holding Grupo X, a confiança ainda está em construção. “A confiança se reconstrói com execução, não com expectativa”, disse o executivo, destacando que o país segue travado por juros altos e baixa produtividade.

Investidores aplaudem trégua, mas mantêm cautela

O analista Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, aponta que o mercado reagiu à percepção de que o diálogo entre Brasil e EUA pode aliviar pressões cambiais e atrair capital estrangeiro. “O Ibovespa renovou recordes impulsionado por entrada de investidores internacionais”, afirmou.

Com o dólar em queda, a inflação tende a ceder, o que abre espaço para novos cortes na Selic e melhora o ambiente de crédito. Ainda assim, executivos do setor financeiro afirmam que a melhora é apenas emocional e pode ser revertida rapidamente.

André Matos, CEO da MA7 Negócios, diz que a reação positiva “reflete uma reprecificação de risco político, não uma melhora estrutural”. Para ele, ruídos diplomáticos ou fiscais podem inverter o movimento em poucas semanas.

Setores beneficiados e o alerta contra a euforia

Setores dependentes do câmbio, como o imobiliário e o de construção civil, estão entre os principais beneficiados pela estabilidade do real. Pedro Ros, CEO da Referência Capital, afirma que o alívio reduz custos e melhora margens.

“Mas essa estabilidade só será sustentável se o diálogo se transformar em acordos concretos de competitividade”, disse.

Por outro lado, Pedro Da Matta, da Audax Capital, adverte que o real valorizado pode mascarar problemas estruturais. “O Brasil vive um otimismo superficial, sem resolver gargalos de crédito, produtividade e investimento”, afirmou.

Na mesma direção, Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, destacou que o desafio é transformar o clima diplomático em ações efetivas. “O Brasil precisa converter otimismo em eficiência financeira, substituindo euforia por liquidez real à economia”, concluiu.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.