
- IFI alerta para deterioração fiscal contínua, comparando cenário a uma “bomba-relógio”.
- Orçamento de 2026 é considerado frágil, com receitas incertas e despesas subestimadas.
- Impulso fiscal em economia aquecida pode ampliar inflação e corroer credibilidade do governo.
O desequilíbrio das contas públicas no Brasil ganhou mais um alerta oficial. Para Marcus Pestana, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, o governo Lula administra uma verdadeira “bomba fiscal”, resultado do crescimento contínuo da despesa acima da receita.
Em entrevista ao CNN Money, o economista afirmou que o quadro não estoura de imediato, mas corrói a confiança no país de forma progressiva. Ele comparou a situação a uma doença crônica: “é como uma diabete que vai deteriorando a saúde ao longo do tempo”.
Receita cresce, mas despesa explode
Pestana explicou que o governo tem buscado equilibrar as contas com aumento de arrecadação, e não com cortes de gastos. Entre as medidas citadas estão a tributação de fundos exclusivos e offshores, as mudanças nas regras de créditos tributários e a taxação sobre fintechs e apostas esportivas.
Essas iniciativas, porém, são paliativas. Para o diretor da IFI, o esforço arrecadatório não resolve o problema de fundo, que é o crescimento contínuo da despesa obrigatória. Segundo ele, sem reformas mais profundas, o país seguirá em “marcha lenta rumo ao desequilíbrio”.
A estratégia, portanto, pode gerar receita imediata, mas não garante estabilidade no longo prazo. “O governo gasta mais do que arrecada e tenta tapar o buraco com aumentos pontuais de impostos”, avaliou.
Orçamento cheio de interrogações
Outro ponto crítico destacado foi o orçamento de 2026, considerado “irrealista e cheio de interrogações”. A IFI avalia que há superestimação de receitas e subestimação de despesas.
Pestana disse que parte relevante do ajuste projetado depende de entradas incertas, como leilões, decisões judiciais e receitas extraordinárias que podem não se concretizar. “Há uma série de interrogações ali para zerar o déficit”, criticou.
Essa fragilidade, segundo ele, compromete a credibilidade fiscal e pode ampliar o risco de pressão nos juros e no dólar, além de afastar investimentos.
Impulso fiscal no momento errado
Na avaliação da IFI, a insistência em ampliar gastos num cenário de economia aquecida aumenta ainda mais o risco de desequilíbrio.
Pestana destacou que o desemprego está em patamar historicamente baixo e que a inflação ainda preocupa. Nesse ambiente, um impulso fiscal, como expansão de programas de renda ou desonerações, tende a gerar pressão adicional sobre os preços.
“Introduzir renda não é um problema quando o país está em depressão. Mas agora, com atividade forte e mercado de trabalho aquecido, esse impulso é inadequado”, avaliou.