
- PIB do 2º tri deve crescer apenas 0,3% sobre o trimestre anterior mostrando perda de fôlego
- Juros altos e incertezas externas pesam sobre indústria investimentos e consumo das famílias
- Expectativa é de PIB em torno de 2,2% em 2025 com espaço para corte de juros no fim do ano
O PIB brasileiro do 2º trimestre, que será divulgado nesta terça-feira (2), deve confirmar uma desaceleração expressiva da atividade econômica. Após o impulso da supersafra e do desempenho robusto do 1º trimestre, os dados agora indicam um ritmo mais contido.
Economistas atribuem o movimento ao peso prolongado dos juros elevados e ao cenário global turbulento, marcado pelas tarifas recíprocas do governo Donald Trump. As projeções convergem para um crescimento modesto, reforçando a leitura de que o avanço do ano ficou concentrado nos primeiros meses.
Projeções para o PIB
As estimativas variam, mas giram em torno de uma alta de 0,3% no trimestre frente ao 1º tri, e de 2,1% sobre o mesmo período do ano passado. O Banco Daycoval projeta números um pouco acima, com 0,5% e 2,4% respectivamente.
Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine, explica que “todo o avanço da economia em 2025 deve ficar concentrado no primeiro semestre”. Ele acrescenta que o ambiente de crédito restrito e a incerteza global reduziram a confiança de empresários e consumidores.
Portanto, na visão dos analistas, os riscos de baixa estão na indústria de transformação e no varejo, enquanto setores como o automotivo e a logística podem oferecer alguma resiliência.
Oferta em queda
Do lado da oferta, a agropecuária, que havia sustentado o PIB com a supersafra no início do ano, perde força pela sazonalidade. O Banco Pine calcula retração de 1,7% no setor, após salto de 12,2% no trimestre anterior.
Assim, a indústria também mostra perda de fôlego, acompanhando os dados do IBGE que indicaram crescimento de apenas 0,1% em junho, abaixo do esperado. O recuo de 1,3% frente ao mesmo mês de 2024 reforça o enfraquecimento.
Desse modo, serviços e confiança empresarial também sinalizam um ritmo menos intenso, compondo o quadro de desaquecimento geral.
Demanda mais fraca
Pela ótica da demanda, a queda mais relevante deve aparecer nos investimentos, com retração estimada de 2,3% no trimestre. Será a primeira baixa após seis resultados positivos seguidos.
Além disso, segundo Oliveira, os juros altos e a instabilidade internacional pesaram diretamente na disposição de investir. Já o consumo das famílias e os gastos do governo devem manter leve alta, projetada em 0,3%.
Por fim, as exportações podem trazer um pequeno alívio, com alta de 0,7%, enquanto as importações devem cair 1,8%, reflexo da demanda interna mais fraca.
Perspectivas para o ano
Se as estimativas se confirmarem, o crescimento carregado para 2025 deve ficar em torno de 2,4%. Para o terceiro trimestre, a projeção é de avanço de 0,1%, seguido por estabilidade no final do ano.
Daycoval, por sua vez, prevê um PIB de 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026. Ademais, o banco avalia que a desaceleração pode abrir espaço para cortes de juros pelo Copom já no último trimestre deste ano.
O cenário, portanto, indica que a economia seguirá em trajetória moderada, mas sem retração severa. A expectativa é de que os próximos passos da política monetária definam o tom da recuperação.