
- O PIB cresceu 0,4% no 2º tri, superando levemente as expectativas do mercado.
- Serviços e consumo das famílias sustentaram o resultado, mas investimentos recuaram 2,2%.
- Especialistas projetam crescimento próximo de 2% em 2025, com desaceleração no segundo semestre.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2025 em relação ao trimestre anterior, resultado levemente acima da expectativa de 0,3% apurada pela Reuters. O número foi impulsionado por serviços e consumo das famílias, mas já sinaliza perda de fôlego diante dos juros elevados.
Na comparação com o mesmo período de 2024, a economia avançou 2,2%, acumulando alta de 2,5% no primeiro semestre. O desempenho marcou novo recorde da série histórica iniciada em 1996, mas especialistas reforçam que a desaceleração deve se consolidar ao longo do segundo semestre.
O que puxou o crescimento
Pela ótica da oferta, os serviços avançaram 0,6% e a indústria cresceu 0,5%, compensando a leve retração de 0,1% na agropecuária. Dentro de serviços, os destaques foram atividades financeiras (2,1%), informação e comunicação (1,2%) e transporte (1,0%). Já na indústria, a alta foi puxada por indústrias extrativas, que subiram 5,4%.
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 0,5%, sustentado pela massa salarial em alta e pelos programas de transferência de renda. Em contrapartida, o consumo do governo recuou 0,6% e os investimentos caíram 2,2%, interrompendo seis trimestres consecutivos de expansão.
As exportações avançaram 0,7%, enquanto as importações recuaram 2,9%, o que também ajudou no resultado positivo. Apesar disso, economistas destacam que a queda nos investimentos aponta para um ciclo de desaceleração mais à frente.
Juros pesam sobre a atividade
Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, o resultado confirma a resiliência dos serviços, mas expõe os efeitos da Selic elevada. “Os juros altos travam projetos e reduzem o consumo de bens duráveis. A sustentação vem de serviços, mas em ritmo mais moderado”, avaliou.
Alex Agostini, da Austin Rating, destacou a força do consumo das famílias e a queda menor do que o esperado na agropecuária. Contudo, lembrou que os investimentos frustraram expectativas, sinalizando limitações para o crescimento no segundo semestre.
Já Allan Gallo, professor da Mackenzie, apontou que o maior freio é interno. “Juros reais próximos de 10% estrangulam o crédito e desestimulam investimentos. A narrativa de que a desaceleração vem do cenário internacional não se sustenta”, disse.
Perspectivas para 2025
A maioria dos especialistas projeta avanço próximo de 2% para o PIB em 2025, com trajetória de desaceleração nos próximos trimestres. Leonardo Costa, da ASA, destacou que indústria e serviços seguem como motores, mas a queda nos investimentos pesa na atividade.
Empresários também enxergam limitações. André Matos, da MA7 Negócios, afirmou que “juros a 15% ao ano funcionam como freio, seguram a inflação, mas reduzem consumo e investimentos”. Carlos Braga Monteiro, do Grupo Studio, destacou que o ritmo já perdeu velocidade em relação ao início do ano.
Além da política monetária restritiva, a incerteza fiscal e as tensões no cenário internacional adicionam volatilidade às projeções. Para o mercado, a combinação de juros elevados e ambiente global adverso continuará determinando o ritmo da economia brasileira.