
- Produção industrial cresceu 0,8% em agosto, maior alta desde março
- 16 de 25 atividades avançaram, com destaque para farmacêuticos e petróleo
- Juros altos e tarifas dos EUA seguem como grandes obstáculos
A produção industrial brasileira surpreendeu em agosto com crescimento de 0,8%, superando todas as expectativas de mercado e marcando o maior avanço desde março. O resultado traz alívio após quatro meses de fraqueza, em que o setor acumulou queda de 1,2%.
Apesar da reação, economistas alertam que a indústria ainda enfrenta obstáculos relevantes, como os juros elevados, a perda de dinamismo em investimentos e os impactos iniciais das tarifas dos Estados Unidos sobre produtos nacionais.
Recuperação inesperada
O levantamento do IBGE mostrou que o crescimento de agosto ficou muito acima da projeção da Reuters, que estimava avanço de 0,3%. A base de comparação depreciada ajudou a impulsionar os números, mas o destaque foi o espalhamento da recuperação.
Entre as 25 atividades pesquisadas, 16 registraram aumento de produção, maior abrangência desde março. O desempenho positivo reforça a percepção de que a recuperação não ficou restrita a um único segmento.
Para o gerente da pesquisa, André Macedo, a melhora foi disseminada e revela resiliência do setor diante de um cenário macroeconômico adverso.
Setores que puxaram o crescimento
Os maiores avanços vieram de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+13,4%), petróleo e biocombustíveis (+1,8%) e alimentos (+1,3%). Esses segmentos garantiram o fôlego necessário para sustentar o índice positivo.
Já entre os setores em queda, os produtos químicos recuaram 1,6%, interrompendo três meses de crescimento consecutivo. Essa queda foi o principal freio no movimento geral de expansão.
No recorte por categorias econômicas, bens intermediários (+1,0%), bens de consumo semi e não duráveis (+0,9%) e bens duráveis (+0,6%) registraram alta, enquanto bens de capital caíram 1,4%.
Obstáculos ainda no radar
Mesmo com os dados animadores, analistas reforçam que a indústria brasileira segue sem tração firme. O cenário de Selic a 15% limita crédito e investimentos, reduzindo a capacidade de expansão no médio prazo.
Além disso, a entrada em vigor das tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros no início de agosto tende a adicionar pressão sobre o setor exportador. Embora os impactos imediatos tenham sido moderados, o risco de perda de competitividade preocupa.
No acumulado do ano, a leitura é de um setor que reage pontualmente, mas que ainda enfrenta desafios estruturais e conjunturais para sustentar crescimento consistente.