
- Selic segue em 15% ao ano, mas Copom adota tom duro e promete manter juro elevado por “período bastante prolongado”
- Inflação projetada para 2025 é de 4,9%, acima da meta; expectativas seguem desancoradas
- BC monitora tarifas dos EUA e tensão fiscal; risco de nova alta na taxa não está descartado
O Banco Central manteve nesta quarta-feira (30) a taxa Selic em 15% ao ano, encerrando um ciclo de sete altas consecutivas iniciado em setembro de 2024. A decisão, unânime, já era amplamente esperada pelo mercado, mas o tom do comunicado surpreendeu: o Copom alertou que os juros podem ficar nesse patamar elevado por um “período bastante prolongado”.
Mais do que manter a taxa, o Comitê de Política Monetária mostrou preocupação com a persistência da inflação, a resiliência da atividade econômica e o cenário externo incerto. A mensagem foi clara: o combate à inflação está longe de ser considerado encerrado, e novos apertos não estão descartados.
Inflação segue fora da meta até 2026
O Copom manteve a projeção de inflação cheia (IPCA) para 2025 em 4,9%, bem acima da meta de 3%. Para 2026, a estimativa também segue acima do objetivo, em 3,6%. A projeção para o primeiro trimestre de 2027 é de 3,4%, sinalizando que a convergência total à meta pode levar anos.
Os preços livres continuam sendo a principal pressão: a expectativa para 2025 é de 5,1%, e para 2026, 3,5%. Já os preços administrados devem subir 4,4% em 2025 e 4% em 2026, segundo a tabela apresentada pelo BC.
Esses dados mantêm as expectativas desancoradas, o que reforça a postura cautelosa do Copom. Para o Comitê, ainda há efeitos dos juros já elevados que não se refletiram totalmente na economia, daí a decisão de “esperar para ver”.
Riscos internos e externos se acumulam
O Copom destacou que o cenário internacional segue “mais adverso e incerto”, principalmente devido às políticas comercial e fiscal dos Estados Unidos. A guerra tarifária liderada por Donald Trump e a instabilidade geopolítica global impõem desafios adicionais aos países emergentes, como o Brasil.
No front doméstico, o Banco Central reconhece uma “moderação no crescimento”, mas nota que o mercado de trabalho continua aquecido, o que sustenta a inflação de serviços. A combinação entre atividade firme e inflação elevada leva o BC a evitar qualquer sinal de afrouxamento.
Além disso, o Copom chamou atenção para os riscos fiscais e para a possibilidade de uma desvalorização persistente do real, que poderia agravar as pressões inflacionárias. O Comitê também afirmou que monitora com “particular atenção” a imposição de tarifas dos EUA contra o Brasil e seus desdobramentos.
Juros altos por mais tempo ou ainda mais altos?
A decisão de manter a Selic foi unânime entre os nove membros do Copom, agora sob liderança de Gabriel Galípolo. Mas o comunicado deixa claro que os juros só começarão a cair se houver sinais mais consistentes de queda na inflação e nas expectativas.
Caso contrário, o comitê “não hesitará” em retomar o ciclo de alta. Essa possibilidade, embora ainda considerada remota por parte do mercado, volta ao radar diante das incertezas fiscais e externas.
Com isso, a perspectiva de início de corte de juros em 2026 fica mais distante. Analistas já projetam que a Selic permanecerá em dois dígitos até o segundo semestre do próximo ano, frustrando quem apostava em alívio mais cedo.