
- Ministro do Trabalho admite que a Selic a 15% freia contratações em 2025.
- Geração de empregos formais é menor do que no mesmo período de 2024.
- Governo aposta em programas industriais e crédito, mas cobra corte nos juros.
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou nesta segunda-feira (30) que a alta taxa básica de juros está desacelerando o mercado de trabalho. Segundo ele, a criação de vagas formais em 2025 tem ficado abaixo do desempenho registrado no mesmo período do ano passado. A fala acende um alerta para os efeitos da Selic elevada sobre a economia real, especialmente no que diz respeito à geração de empregos.
Empregos crescem, mas em ritmo menor
Apesar do saldo positivo de novas vagas com carteira assinada em 2025, o ritmo de crescimento do emprego formal vem diminuindo ao longo dos meses. O ministro apontou que, embora o país continue gerando postos de trabalho, o patamar atual está aquém do que foi observado em 2024, quando a economia demonstrava sinais mais robustos de recuperação.
“A Selic alta está segurando a atividade econômica. Isso naturalmente impacta o ritmo da geração de empregos”, afirmou Marinho. A taxa básica de juros está atualmente em 15% ao ano, valor que pressiona o crédito e reduz o ímpeto de contratação por parte das empresas, especialmente nos setores mais sensíveis ao custo do financiamento.
De acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), os dados dos primeiros cinco meses de 2025 já indicam crescimento mais tímido em comparação ao mesmo período do ano anterior. Embora o número absoluto de empregos continue subindo, a taxa de variação mensal vem perdendo fôlego.
Juros altos afetam diretamente setores intensivos em mão de obra
Setores como construção civil, comércio e indústria — historicamente grandes empregadores — são os mais afetados pelos juros elevados. O custo mais alto para financiamento inibe investimentos, reduz o consumo e limita a capacidade de ampliação das equipes.
Além disso, pequenas e médias empresas relatam dificuldades em acessar crédito para capital de giro, o que as obriga a frear contratações. Segundo especialistas, com a Selic no atual patamar, há menor disposição por parte do setor produtivo em apostar em crescimento no curto prazo.
O próprio governo tem encontrado desafios para sustentar a expansão do mercado formal. Programas de incentivo e políticas de qualificação profissional foram mantidos, mas perdem parte de sua efetividade quando a política monetária impõe travas à economia. Marinho defende uma redução gradual e responsável da taxa de juros, compatível com o controle da inflação e com a retomada do desenvolvimento.
Governo aposta em política fiscal e industrial para reverter tendência
Em resposta ao cenário, o Planalto tem apostado em medidas de estímulo à economia real. O programa Nova Indústria Brasil, por exemplo, busca modernizar o parque industrial e gerar empregos de maior qualificação. Já o Desenrola Brasil e as iniciativas de infraestrutura pretendem ativar setores com forte potencial de absorção de mão de obra.
No entanto, a eficácia dessas políticas depende da combinação com juros mais baixos. Sem isso, o impulso ao mercado de trabalho tende a ser limitado. Marinho também cobra maior sintonia entre a política fiscal e a monetária e destaca o emprego como indicador central para definir a Selic.
Enquanto isso, a recuperação do mercado de trabalho segue ocorrendo, mas em velocidade reduzida. A expectativa é que, com eventual queda na Selic nos próximos trimestres, haja novo fôlego para a geração de empregos. Até lá, o governo mantém o discurso de que estabilidade fiscal e redução de desigualdades devem caminhar lado a lado.