Economia

Tarifa de Trump pode custar até 0,4 ponto do PIB do Brasil, diz Goldman Sachs

Banco classificou a carta enviada por Trump a Lula como “a mais singular” e com um discurso fortemente político e ideológico

Brasil-EUA

A ofensiva comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil já começa a ser quantificada — e os números preocupam. Segundo estimativas do Goldman Sachs, as novas tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros, anunciadas pelo republicano na quarta-feira (9), podem reduzir entre 0,3 e 0,4 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

“Essas tarifas, se durarem e não forem seguidas de retaliações relevantes, têm potencial para afetar significativamente a atividade econômica brasileira”, afirmou Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina no Goldman Sachs.

O relatório divulgado pelo banco ressalta que cerca de US$ 42,7 bilhões em exportações brasileiras aos EUA estão sujeitas à nova tarifa de Trump — o equivalente a 2% do PIB brasileiro e 12,6% das exportações totais do país.

Um impacto desigual na América Latina

Segundo o levantamento, o Brasil será o país mais afetado entre as economias latino-americanas, com uma alta de 35,5 pontos percentuais na tarifa efetiva média, considerando todas as medidas já anunciadas por Trump — o maior salto da região.

Para efeito de comparação, o Chile aparece em segundo, com 26,3 p.p., seguido por Peru (14,4), Argentina (10,8), México (9,7), Colômbia (6,7) e Equador (5,7).

A estimativa leva em conta tanto as tarifas globais (como aço, alumínio e veículos), quanto tarifas setoriais futuras, incluindo 50% sobre cobre e 25% sobre produtos farmacêuticos, semicondutores, minerais críticos e produtos de madeira, previstas para o terceiro trimestre de 2025.

PIB ameaçado, inflação em alerta

O impacto direto no PIB não é o único risco. Se o governo brasileiro decidir responder com medidas de retaliação, o Goldman Sachs alerta que os efeitos negativos podem se multiplicar, atingindo também a inflação e os investimentos.

Apesar disso, Ramos acredita que exportadores brasileiros devem pressionar o governo Lula a buscar uma saída diplomática, evitando uma escalada que acirre ainda mais as tensões entre os dois países.

Uma carta que diz mais do que deveria

O anúncio da tarifa foi feito por Trump em um post na rede Truth Social, mas o ponto mais explosivo veio em uma carta oficial enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva — com conteúdo que chocou analistas pela politização explícita.

A maneira como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro […] é uma desgraça internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo”, escreveu Trump, chamando o processo de uma “caça às bruxas”.

O Goldman Sachs classificou a carta como “a mais singular” entre as enviadas pelo governo dos EUA a outros países, por não apresentar, de início, qualquer argumento técnico sobre comércio, mas sim um discurso fortemente político e ideológico, com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e menções à liberdade de expressão.

A resposta brasileira: reciprocidade à vista

Lula reagiu com firmeza em suas redes sociais, dizendo que o Brasil responderá com base na Lei de Reciprocidade Econômica (Lei 15.122/2025), sancionada em abril. A legislação permite tarifar produtos de países que adotem medidas unilaterais contra o Brasil — exatamente o cenário atual.

Ainda assim, o Planalto avalia não responder de imediato, aguardando os desdobramentos e possíveis aberturas para negociação. Nos bastidores, há quem veja na atitude de Trump uma jogada para pressionar Lula em ano pré-eleitoral e agradar a base bolsonarista no Brasil.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.