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Entrevista com Carlos Alberto Rodrigues, gerente de câmbio na WIT Exchange.
Primeiro, explique a origem do dólar blue e o que é.
R: O dólar blue é uma cotação do dólar praticada no mercado paralelo, negociado por cambistas dentro da Argentina. Em outras partes do mundo é o que se conhece por “dolar clandestino ou paralelo”, por ser negociado de forma ilegal, já que não é reconhecido pelo Banco Central argentino. É difícil afirmarmos sua origem, contudo, especialistas dizem que o congelamento de preço do dólar em relação ao peso argentino realizado pelo governo, pode ter contribuído para o seu surgimento. E pelo fato de ser ilegal, também fica difícil rastrear de onde vem o dinheiro que é comercializado, especialistas sugerem que pode estar relacionado com crimes de lavagem de dinheiro, sonegação e ate mesmo comércio de armas e drogas.
Quais são os principais riscos e desafios associados à ilegalidade do ‘dólar blue’ na Argentina? Como essa prática pode afetar não apenas os participantes diretos do mercado paralelo, mas também a estabilidade econômica geral do país? Como afeta o Brasil?
R: Existem alguns relatos de turistas terem recebido notas falsas de dinheiro que foram negociados via dolar blue, esse é o principal risco. Além, é claro, do turista estar envolvido com algo que é ilícito e participar indiretamente de crimes de lavagem de dinheiro.
Hoje na Argentina existem diversas cotações “oficiais” de dólar criadas pelo governo, mas na prática é o blue que tem ditado a economia da Argentina, já que é seguindo a cotação dele que os comerciantes têm remarcado o preço dos seus produtos, mesmo não sendo regulado pelo governo. Devido a toda essa crise, a relação com o Brasil também tem sido afetada, embora ainda hoje a Argentina se mantenha como o terceiro maior parceiro comercial, ano passado fechou 4,6% de representatividade de toda exportação brasileira, em tempos melhores essa representatividade ja foi de 10%.
Considerando a assimetria entre as variações oficiais do dólar e o valor real da moeda, como as estratégias adotadas pelo governo argentino, como congelamento das variações, impactam a economia local? Há riscos adicionais para a inflação e outros indicadores econômicos?
R: Sim, principalmente pelo fato do dólar blue, que é operado por casas de câmbio, doleiros e cambistas não fiscalizados pelo governo, ditar à economia. A inflação muito alta faz o peso valer cada vez menos, aumentando a procura pelo dólar que sofreu altas impressionantes ao longo deste ano. E a alta do dólar faz os preços dos produtos subirem, impactando diretamente na inflação.
Como a diversidade de cotações para o dólar, incluindo o ‘dólar blue’, reflete as tentativas da Argentina de criar reservas da moeda norte-americana no país? Quais são as implicações dessas estratégias econômicas para o mercado cambial e para a economia em geral?
R: Com a alta da inflação e a população procurando cada vez mais por dólares, foi gerado um problema de restrição externa e isso fez com que o governo argentino tomasse medidas para tentar conter a saída de divisas e assim preservar as reservas do Banco Central que já eram poucas. Com isso vieram as restrições impostas pelo governo para a compra de dólar e também uma série de preços diferentes para a moeda americana. Em alguns casos, as cotações variam entre eles em mais de 100% e uma das exigências do FMI (maior financiador do país) é que o governo argentino tire essa diferença entre o dólar oficial e o financeiro.
Dada a volatilidade cambial e as complexidades associadas ao ‘dólar blue’, como esses desafios podem influenciar as relações econômicas da Argentina com outros países, especialmente no contexto das trocas comerciais com o Brasil? Existem estratégias específicas que o governo argentino está adotando para lidar com essas implicações no âmbito internacional?
R: A Argentina ainda se mantém como um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, embora alguns setores tenham sofrido com mais impacto a crise que lá ocorre. A indústria, nos segmentos têxtil e automotivo sempre tiveram a Argentina como o maior parceiro comercial nas exportações, mas viram as exportações caindo cada vez mais, e ano passado perdeu seu posto de maior parceiro para o México.
Na relação Brasil-Argentina vale destacar também o desafio que teremos frente a governos tão antagônicos que passarão a se relacionar.
O governo argentino, eleito recentemente pelo seu presidente Javier Milei, pretende dolarizar o país como uma forma de estancar a inflação de três dígitos, embora especialistas digam que isso é quase uma missão impossível.
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