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Evergrande o que é? Entenda o que está acontecendo na China

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  • Os mercados acionários globais estão em alerta máximo à medida que o gigante chinês Evergrande enfrenta um teste-chave esta semana.
  • O grupo tem dívidas que não pode pagar, abrindo possibilidade de um fracasso iminente – seja uma reestruturação ou liquidação total.
  • O Dow Jones Industrial Average caiu na segunda-feira em meio a uma queda mais ampla nas ações globais, com os investidores preocupados com a Evergrande.

Aposto que nunca tenha ouvido falar sobre, ou escutado algo sobre a Evergrande nos últimos meses. Entretanto, agora a Evergrande Group está rapidamente se tornando a maior preocupação financeira de um país e do mundo. Isso porque as dívidas financeiras da empresa podem resultar em um calote gigantesco de mais de US$ 300 bilhões em passivos.

O preço das ações de Evergrande despencou, mas Hui Ka Yan, o proprietário bilionário, tentou tranquilizar os banqueiros de que ela se recuperará. A companhia é uma holding chinesa com sede em Guangzhou, China. E a empresa atua em vários seguimentos de negócios, desde imobiliário até clube de futebol.

Isso porque a grande imobiliária chinesa vem de uma ascensão meteórica ao recorde mundial do endividamento corporativo, podendo ser comparado com a empresa Lehman Brothers. De acordo com algumas análises mais preocupantes, é pouco provável que a Evergrande provoque uma reação em cadeia, como sucedeu a crise após a queda da Lehman Brothers em 2008.

O que é Evergrande?

Antes conhecida como Grupo Hengda, a Evergrande foi fundada em 1996 na cidade de Guangzhou por Xu Jiayin (Conhecido como Hui Ka Yan). Já foi o homem mais rico da China. Entretanto, atualmente o mesmo ocupa a última posição do Top 10 dos bilionários chineses.

Em 2016, o fundador foi a oitava pessoa mais rica da China, no valor de US$ 4,9 bilhões. Os preços das ações, os lucros e a receita da Evergrande subiram quase três a quatro vezes em valor, impulsionando Xu Jiayin a ser uma das pessoas mais ricas da Ásia.

Evergrande é uma das maiores incorporadoras imobiliárias da China, com cerca de 1.300 projetos em mais de 280 cidades chinesas. Dessa forma, suas operações se estendem a outras indústrias, incluindo produtos de gestão de patrimônio, veículos elétricos, bens de consumo e esportes.

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No final de junho, ela se comprometeu a construir o equivalente a cerca de 1,4 milhão de propriedades individuais, de acordo com a Capital Economics.

O grupo também vai muito além da construção civil, com investimentos em veículos elétricos (Evergrande New Energy Auto), uma unidade de produção de internet e mídia (HengTen Networks), um parque temático (Evergrande Fairyland), um clube de futebol (Guangzhou FC) e uma água mineral e empresa de alimentos (Evergrande Spring), entre outras. Nesse sentido, a companhia conta com mais de 200 “offshore” e mais de 1.900 subsidiárias nacionais.

Em resumo, a grande incorporadora imobiliária, fez muitos empréstimos para financiar seu rápido crescimento.

Evergrande tem cerca de 2 trilhões de yuans em ativos — equivalente 2% do produto interno bruto da China, de acordo com cálculos do Goldman Sachs.

O que está acontecendo?

Evergrande tem atualmente cerca de US$ 300 bilhões em passivos e apenas cerca de US$ 15 bilhões em casa. Nesse sentido, o banco suíço UBS estima-se que o valor do passivo esteja mais próximo de US$ 313 bilhões — que equivale a 6,5% do passivo total do setor imobiliário chinês carregado de dívidas — dos quais US$ 19 bilhões são compostos de títulos offshore em aberto.

Além disso, o grupo também possui uma grande rede de empréstimos. Entretanto, segunda-feira foi o prazo final para o pagamento de empréstimos bancários nacionais.

Dessa maneira, os estrategistas do Deutsche Bank em nota, disseram que havia um período de carência:

A grande incorporadora imobiliária, havia um período de carência de 24 horas a partir do prazo final de segunda-feira. Entretanto, as autoridades chinesas alertaram os bancos na semana passada que Evergrande não cumpriria essas obrigações.”

Destacou os estrategistas do Deutsche Bank em nota.

Além disso, Evergrande supostamente enviou uma carta ao governo provincial de Guangdong (Guangzhou é a capital) em agosto, alertando as autoridades de que os pagamentos em janeiro de 2021 poderiam causar uma grande crise de liquidez e que possivelmente ia levar a inadimplência cruzada no setor financeiro amplo.

Entretanto, o proprietário bilionário, tentou tranquilizar os banqueiros de que incorporadora se recuperará. Contudo, os investidores estão apreensivos e não sabem ao certo como. 

BlackRockUBSHSBC estão entre os detentores de títulos da empresa. Em conclusão, os macro estrategistas do UBS, agora veem uma inadimplência de crédito significativa como inevitável. 

Outra coisa importante é que os investidores estão perguntando se as principais empresas chinesas ainda são consideradas grandes demais para falir pelo governo central. Isso porque o governo central, preza a estabilidade — e o que acontece se não forem.

Se o cenário financeiro da Evergrande se complicar ainda mais, como fica?

Se a Evergrande finalmente fracassar, será um grande sinal de problemas para o endividado setor imobiliário da China e poderá ser o primeiro de uma onda de falências.

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Além disso, a crise de caixa em Evergrande coincide com uma desaceleração geral no mercado imobiliário da China, exacerbada por taxas de hipotecas mais altas e regras mais rígidas para os tomadores de empréstimos. Os reguladores vêm reprimindo o que consideram um mercado imobiliário superaquecido, com regras introduzidas no ano passado para limitar os empréstimos no setor imobiliário.

Por sua vez, se Evergrande não puder pagar suas dívidas, os credores da empresa — incluindo alguns dos maiores bancos da China — ficarão sob pressão. Nesse sentido, pode dificultar o acesso dos fundos às empresas que precisam pedir dinheiro emprestado a bancos e mercados de títulos. Além disso, a companhia está perdendo a confiança com seus investidores, isso porque, um grupo de investidores importante para a mesma renunciou ao direito de forçar um reembolso de US$ 13 bilhões.

Dessa forma, caso essa projeção venha a se cumprir de fato, pode marcar o início de uma crise financeira na segunda maior economia do mundo e poderá causar maior instabilidade internacionalmente.

Portanto, pode acarretar um resultado muito ruim, se não o pior cenário, seria Evergrande quebrar completamente e ser totalmente liquidado. Se ele entrar em default nos empréstimos, isso poderia fazer com que bancos e outros grupos com grande exposição a Evergrande quebrassem. Dessa forma, podem ter a obrigação se reestruturar.

Em resumo, isso poderia abalar a confiança dos investidores na dívida offshore asiática de alto rendimento, levando as agências de classificação a reavaliar esses tipos de títulos e, potencialmente, até mesmo alterar as metodologias de classificação vinculadas ao apoio estatal. Com isso, pode afetar os ativos financeiros chineses de forma mais ampla.

Evergrande será o Lehman Brothers chinês?

Alguns anunciaram a Evergrande como o momento chinês do Lehman Brothers.

O que foi Lehman Brothers?

Lehman Brothers Holdings foi um banco de investimento e provedor de outros serviços financeiros, com atuação global, sediado em Nova Iorque.

Dessa maneira, era uma empresa global de serviços financeiros que, até declarar falência em 2008, fez negócios no ramo de investimentos de capital venda em renda fixa, negociação, gestão de investimento. Nesse sentido, em 15 de setembro de 2008, a empresa pediu falência, já que vinha tendo prejuízos causados pela crise dos subprimes nos Estados Unidos.

A crise do subprime, foi em referência aos créditos de alto risco vinculados a imóveis, que foram concedidos em larga escala e de forma irracional por décadas, a quebra do banco de investimentos Lehman foi um marco da crise financeira internacional neste século.

No caso da Evergrande, tudo pode acontecer

Um dos principais motivos é que os títulos offshore de Evergrande provavelmente serão reestruturados, e a maior parte da dívida é mantida por grandes fundos globais que não são bancos ou outras instituições financeiras críticas.”

Destaca o Ryan Detrick, estrategista-chefe da corretora LPL Financial.

E o Lehman Brothers estava nos livros da maioria dos outros grandes bancos, então sua falência foi sentida de forma mais ampla. Além disso, Detrick também observou que a Evergrande tem ativos tangíveis genuínos que podem ser vendidos para liquidar obrigações financeiras — algo que o Lehman não tinha.

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Entretanto, após todos esses acontecimentos a incorporadora fez um manejo nas suas dívidas. Contudo, o adiamento foi temporário, pois ainda havia muitas dívidas a vencer mais tarde. Dessa maneira, a Evergrande traçou um plano para cortar sua pilha de dívidas de US$ 100 bilhões aproximadamente pela metade até meados de 2023, incluindo uma série de vendas de ativos e ofertas de ações.

Isso porque a empresa tem cerca de US$ 80 bilhões em ações em negócios não imobiliários, de acordo com Agnes Wong, analista do BNP Paribas SA em Hong Kong. Assim sendo, levantou cerca de US$ 8 bilhões este ano em agosto, vendendo ações em sua unidade EV, HengTen, uma empresa imobiliária de Hangzhou e um banco regional. 

Nenhum deles oferece soluções rápidas, no entanto, porque as vendas provavelmente não seriam concluídas antes do próximo ano. A Fitch Ratings e a S&P Global Ratings disseram que um default parecia provável. Dessa maneira, a companhia precisa fazer US$ 669 milhões em pagamentos de cupons até o final deste ano. E cerca de US$ 615 milhões estão em títulos em dólar da Evergrande, mostram dados compilados pela Bloomberg.

China ou algum governo pode ajudar a empresa “too big to fail”?

Os governos centrais, provinciais ou empresas estatais podem intervir com algum tipo de salva-vidas ou reestruturação forçada.

Segundo fontes, destacam que Pequim instruiu as autoridades a traçar um plano para administrar os problemas de dívida da empresa. E incluindo também a coordenação com os compradores potenciais de seus ativos.

Assim, resta descobrir como a China reagirá, uma possibilidade é que Pequim resgate Evergrande de alguma forma, mas também poderá permitir o colapso.

Nesse sentido, em setembro, reguladores assinaram uma proposta para permitir que Evergrande renegocie prazos de pagamento com credores, abrindo caminho para outro adiamento temporário. 

Na semana passada, o editor do principal jornal estatal do país disse que Evergrande não deveria esperar um resgate do governo sob o pressuposto de que é “too big to fail” (grande demais para falir)”

Informou a Reuters.

Alguns analistas consideram uma questão de quando, e não se, a China entrará em ação.

Pelo que sabemos, os empréstimos para Evergrande foram feitos por bancos chineses que são implicitamente apoiados pelo governo chinês, e o balanço do governo chinês pode facilmente lidar com as perdas de Evergrande, avaliadas em cerca de US$ 303 bilhões em passivos.”

Destacou o Tom Essaye da Sevens Report Research na semana passada.

O banco central chinês já agiu para evitar uma crise de liquidez, injetando 90 bilhões de yuans (US$ 14 bilhões) no sistema bancário na sexta.

Em um post no aplicativo de bate-papo da China e na plataforma de mídia social WeChat, o influente editor-chefe do jornal estatal Global Times Hu Xijin disse que o Evergrande não deve confiar em um resgate do governo e, em vez disso, precisa se salvar. Isso também ressoa com o objetivo de Pequim de controlar a dívida corporativa.


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