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Fim dos IPOs: Com crise em pauta, empresas globais não querem entrar na bolsa

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Investidores que estão acostumados com o cotidiano no mercado de capitais nos últimos anos estavam a parte de uma prática comum do mercado: os IPOs.

O processo de listagem em bolsa (Initial Public Offering — IPO na sigla em inglês) é o momento mais aguardado por uma companhia desde a sua fundação. Afinal, ser listada em bolsa é o que podemos chamar de “ápice” para uma companhia e marca o momento em que a empresa se torna uma companhia pública.

No entanto, estar a mercê do mercado de capitais, apesar de representar a maior capacidade de captar investimentos, traz muitos desafios. Por isso, nem todas as companhias conseguem cumprir as expectativas de seus IPOs e acabam amargando quedas e mais quedas nos pregões das bolsas de valores.

Como o processo de IPO é um importante marco para um companhia, as companhias almejam este marco. Afinal, ser listada em Bolsa abre um gama de novas possibilidades para atração de recursos e de visibilidade para a empresa. Desse modo, fornecendo as ferramentas necessárias para expandir e reformular a estruturação de suas operações.

No entanto, em 2022 as ofertas públicas simplesmente “desapareceram do mercado”. O ano está se apresentando como o ano do risco no mercado de capitais. Inflação, aumento das taxas de juros e o conflito entre a Ucrânia e a Rússia.

É fato que a combinação desses elementos resultou em uma equação nada favorável para as ofertas públicas iniciais de ações em 2022. Diante desses fatores, poucas empresas se arriscaram a percorrer esse caminho no decorrer do ano.

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O medo tomou conta de Wall Street

Desse modo, alguns números compilados pela consultoria americana Dealogic, divulgados nesta segunda-feira, 22 de agosto, pelo The Wall Street Journal, ilustram bem essa seca, a partir do principal mercado de capitais do mundo. Segundo o levantamento da Dealogic, os IPOs tradicionais captaram apenas US$ 5,1 bilhões no acumulado de 2022 nas bolsas de valores dos Estados Unidos.

Para efeito de comparação, no ano passado, em igual período, as ofertas já haviam arrecadado mais de US$ 100 bilhões. Outros números ajudam a dar a medida da falta de movimentação nessa esfera e apontam para o pior ano do setor em mais de duas décadas. Desde 1995, quando a consultoria começou a compilar dados sobre essas ofertas, os IPOs tradicionais arrecadaram, em média, cerca de US$ 33 bilhões nesse mesmo período.

Em termos comparativos, o resultado também assusta. No ano passado, o mercado americano de capitais registrou um recorde de 1.035 IPOs, considerando as duas modalidades, segundo o Stock Analysis.

O volume superou em 120,4% os 480 IPOs de 2020, até então, a maior marca da série histórica. Esse contexto árido só se equipara aos números registrados em boa parte de 2009, quando os Estados Unidos estavam se recuperando da crise de 2008.

No entanto, a expectativa é de que, em 2022, não se repita o cenário observado naquela época, quando houve um reaquecimento nos últimos meses do ano. Fontes ouvidas pelo The Wall Street Journal ressaltaram que as empresas que decidirem seguir nessa direção precisarão reduzir pela metade seus valuations após dois anos dos mercados em alta. E boa parte delas está preferindo adiar seus planos, pois não estão dispostas a pagar esse preço.

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No Brasil, as eleições são o “Bicho Papão”

Se a situação em Wall Street não é das melhores, aqui no Brasil o cenário é ainda mais conturbado graças ao ano eleitoral. E a situação não deve melhorar tão cedo.

Enquanto nas bolsas americanas, as ofertas públicas iniciais de ações foram reduzidas ao pior patamar dos últimos anos, no Brasil, a situação tem sido ainda pior. Isto é, dado que nenhuma companhia se aventurou a seguir esse caminho em 2022.

O cenário preocupante está prestes a soprar velinhas: Com exceção da listagem das BDRs do Nubank, em dezembro de 2021, a última empresa a tocar a campainha na B3 foi a Vittia, de fertilizantes e defensivos, em 31 de agosto do ano passado.

Além disso, em 2022, a B3 registrou apenas 14 follow ons, que arrecadaram um total de R$ 52,3 bilhões. Entretanto, boa parte desse montante se refere à oferta da Eletrobras, realizada em junho, no valor de R$ 33,6 bilhões. Excluindo esse processo, a maior captação foi da BRF, em fevereiro, de R$ 5,4 bilhões. Em 2021, no mesmo período, entre IPOs e follow ons, essa soma já resultava em R$ 122,4 bilhões.

Contudo, a situação não parece próxima a um final feliz.o mercado deve seguir difícil para as ofertas públicas iniciais (IPOs) mesmo depois que a disputa eleitoral já estiver definida, diz o chefe de mercado de capitais do Citi no Brasil, Marcelo Millen, em entrevista ao Bloomberg.

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Segundo o gestor, os investidores devem aguardar definições sobre como a equipe econômica do governo eleito vai enfrentar a perspectiva de “um primeiro ano bastante desafiador” no pós-eleição.

“Está todo mundo esperando para ver quem vai ganhar, não porque é o candidato A ou B, mas para ver o que vai ser a proposta no campo econômico”, afirma.

Ele vê preocupação com a ausência de crescimento econômico a partir do segundo semestre e a persistência da inflação.

“Estes aspectos não devem ser solucionados em três, quatro meses para a gente ver uma volta robusta de mercado de capitais pós-eleição.”

Nenhuma empresa se arriscou a abrir o capital neste ano de eleições, período sempre considerado de maior volatilidade.

Para o segundo semestre, Millen também não espera nenhuma operação. Mas ele afirma que algumas companhias podem se organizar, num “movimento tático”, para aproveitar uma possível janela para transações em janeiro ou fevereiro, “se o mercado melhorar muito”.


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