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Todos os dias, vemos imagens impressionantes na televisão e nas redes sociais sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o que nos deixa tristes e angustiados. Não podemos acreditar que há pessoas satisfeitas em meio a um conflito destas proporções porque isto seria desumano. Mas infelizmente a paz não está em nossas mãos e só nos resta acompanhar e trabalhar para que esta tragédia nos afete o mínimo possível.
Como investidores, temos o costume e a habilidade de mapear oportunidades para a compra de ações com desconto, a qualquer tempo. Vemos hoje excelentes oportunidades que só existem por causa do novo contexto econômico formado em função da guerra.
Para qualquer investidor, é fundamental compreender quais são elas e aproveitá-las, mesmo com a consciência de que seria melhor trocá-las, sem hesitar, por um mundo mais justo e pacífico.
Gostaria de traçar um panorama mundial do que vem acontecendo depois do início do conflito.
A Rússia e a Ucrânia são importantes produtores e exportadores de commodities agrícolas e energéticas. A primeira é o terceiro maior produtor de petróleo, atrás apenas dos EUA e da Arábia Saudita, sendo também o segundo maior produtor de gás natural; já a Ucrânia é o terceiro maior exportador de milho do mundo, e juntos os dois países produzem 30% do trigo mundial.
Sendo assim, o primeiro impacto que enxergamos é nos preços. Desde o início do conflito, observamos o preço do trigo avançar mais de 40%, enquanto o preço do barril de petróleo bateu recordes e ultrapassou a casa dos U$S 100. O aumento nos valores dessas commodities tende a aprofundar um cenário que já estamos vivenciando por conta da pandemia: o de alta inflação em praticamente todos os países.
Nos Estados Unidos, por exemplo, acompanhamos o índice de preços ao consumidor chegar a 7,9% em fevereiro, a maior variação em quase 40 anos. Um dos principais responsáveis por isso é justamente o aumento no preço da gasolina, que é impactada pelo valor do petróleo. Como resultado do aumento, os Bancos Centrais podem ser pressionados a aumentar ainda mais as taxas de juros para ancorar as expectativas de inflação, o que tende a impactar as bolsas mundiais.
Além disso, a bolsa brasileira é fortemente exposta à commodities. Por exemplo, 36% do índice Ibovespa é formado por empresas ligadas a esse setor. Por essa razão, em curto prazo, o mercado brasileiro pode ser beneficiado pelo aumento dos preços internacionais desses produtos. Ademais, por também ser um país emergente e estar geograficamente distante do conflito, o Brasil pode contar com um maior fluxo de capital estrangeiro vindo de investidores que diminuem sua alocação na Rússia.
Vale lembrar que, por isso, o Brasil vem sendo economicamente favorecido no cenário global com as sanções do Ocidente à Rússia. Uma das iniciativas para atrair o fluxo de capital estrangeiro para o país e, assim, controlar o câmbio e reduzir o impacto da inflação é a isenção do Imposto de Renda sobre aplicações de investidores estrangeiros em títulos privados de empresas brasileiras, anunciado no dia 1 de março.
Grande parte das empresas na bolsa brasileira são commodities e, para elas, o impacto foi positivo por causa da escassez. No mercado agro, o preço dos grãos já sofre impacto: soja, milho e trigo, por exemplo, estão subindo no mercado a vista e no mercado futuro. No Brasil, o mercado de commodities é bastante desenvolvido e o país pode até mesmo substituir a Rússia no fornecimento para países que cortaram as relações comerciais.
É necessário acompanhar tudo de perto; conforme a guerra avança, vários setores podem ser atingidos. A dica é diversificar e acompanhar, pensar em longo prazo e levar em conta que a carteira sempre precisa de ajustes.
*Samyr Castro é CEO do Bank Rio e Conselheiro Invest Smart
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