Dobrando o valor

Ação da Netflix explode no último ano: ainda dá tempo de investir?

Com valuation de 45 vezes o lucro futuro, ação sobe mais que o previsto e desafia até os analistas mais otimistas.

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Foto/Reproduçao: Interface Netflix
Foto/Reproduçao: Interface Netflix
  • Ações da Netflix dobraram em 12 meses, impulsionadas por publicidade, eventos ao vivo e aumento nas assinaturas.
  • Valuation de 45 vezes o lucro estimado preocupa investidores e deixa ação 10% acima do preço-alvo médio.
  • A empresa divulgará o resultado do 2º trimestre em 17 de julho, o que pode definir se o rali continuará ou se ocorrerá uma correção.

A Netflix entregou um dos melhores desempenhos do S&P 500 nos últimos 12 meses. Suas ações praticamente dobraram de valor, impulsionadas pela combinação de publicidade, novos formatos de conteúdo e reajustes nas assinaturas.

Apesar do crescimento, o valuation elevado da companhia levanta dúvidas entre investidores. Investidores já negociam a ação a múltiplos acima da média do mercado, o que pode limitar novos ganhos ou até abrir espaço para correções diante de qualquer sinal de frustração.

Valuation se aproxima de limite técnico

O papel da Netflix alcançou um múltiplo de 45 vezes o lucro estimado para o próximo ano, segundo analistas. É o patamar mais alto desde 2021, época em que o crescimento da base de assinantes era impulsionado pelos lockdowns da pandemia. Para efeito de comparação, a Nvidia negocia a 32 vezes e o Nasdaq 100 a 27 vezes.

Esse avanço no preço das ações ocorreu mesmo diante de projeções de receita mais modestas. A estimativa de crescimento para 2025 é de 14%, abaixo dos 16% previstos para 2024. Ainda assim, o aumento é significativo se comparado a 2022, quando a receita subiu apenas 6,5%.

A valorização acelerada também levou o papel a ultrapassar o preço-alvo médio de analistas. Hoje, a ação da Netflix é negociada cerca de 10% acima do target de US$ 1.217, o que indica potencial de valorização limitado a curto prazo.

Otimismo ainda prevalece, mas com ressalvas

Apesar do preço elevado, muitos gestores permanecem otimistas com a gigante do streaming. Michael Smith, da Allspring Global Investments, reconhece o desempenho dos fundamentos, mas alerta para o risco de decepção. “As expectativas estão altas. Qualquer resultado abaixo do previsto pode gerar correções”, afirmou.

De fato, os números recentes mostram força. A empresa expandiu sua base de assinantes ao reprimir o compartilhamento de senhas e introduzir planos com anúncios. Além disso, investiu em conteúdo ao vivo como lutas de boxe, WWE Raw e jogos da NFL, o que ampliou o alcance da marca.

A combinação entre novas fontes de receita, fidelização e programação original sustenta o momentum da empresa. No entanto, o questionamento central agora é: qual será o próximo gatilho de valorização?

Crescimento consistente, mas menos explosivo

Nos anos de pandemia, a Netflix registrou crescimentos de receita de 24% (2020) e 19% (2021). A média atual, por outro lado, mostra uma desaceleração natural para um negócio já consolidado. O mercado, no entanto, segue projetando expansão — mesmo que em ritmo mais moderado.

A Oppenheimer revisou recentemente o preço-alvo da ação para cima, classificando a perspectiva como “sólida”. Outras casas de análise seguiram o mesmo caminho, o que reforça a confiança institucional no papel, mesmo com o valuation elevado.

Ainda assim, a velocidade com que o preço subiu preocupa alguns investidores. A dúvida já não é mais sobre os fundamentos da empresa, mas sim sobre quanto espaço ainda existe para valorização adicional.

Investidores divididos: vender ou confiar no longo prazo?

Enquanto alguns cogitam embolsar os lucros, outros seguem firmes com a tese de longo prazo. Ken Mahoney, da Mahoney Asset Management, afirma que o domínio de mercado da Netflix justifica pagar mais caro. “É como uma bola de neve que cresce conforme desce a montanha”, disse.

Para ele, muitos investidores perdem oportunidades por focarem demais no valuation. A estratégia, segundo Mahoney, é simples: seguir com empresas que entregam resultados consistentes e inovação contínua.

O balanço do segundo trimestre, que será divulgado em 17 de julho, pode ser decisivo para o rumo das ações. Se os números vierem fortes, o papel pode sustentar a tendência. Caso contrário, a correção pode ser inevitável diante das expectativas elevadas.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.