Dupla listagem?

Ações da JBS sobem com listagem nos EUA

Investidores reagem à estratégia internacional da empresa, apesar de alertas sobre governança corporativa.

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Crédito: Depositphotos
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  • JBS quer abrir capital nos EUA; Proposta cria uma holding holandesa com ações listadas na NYSE e BDRs no Brasil.
  • Mercado reage bem; Ações sobem com otimismo sobre liquidez, visibilidade e captação futura.
  • Governança em debate; Consultoria recomenda voto contrário por risco de concentração de poder nas mãos dos controladores.

As ações da JBS (JBSS3) registraram alta nos últimos dias em meio ao avanço da proposta de listagem na Bolsa de Nova York. A medida, que promete ampliar a visibilidade da companhia no mercado internacional, dividiu opiniões entre investidores e consultorias.

Nova fase com ambição global

A JBS deu mais um passo rumo à internacionalização. A proposta de listagem na Bolsa de Nova York (NYSE), aprovada em assembleia marcada para 23 de maio, prevê a criação da holding JBS N.V., com sede na Holanda. Com isso, a companhia passará a operar com dupla listagem: nos EUA, via ações ordinárias, e no Brasil, por meio de BDRs na B3.

Segundo a direção da empresa, a medida tem como objetivo ampliar o acesso a investidores globais, aumentar a liquidez dos papéis e facilitar a entrada em índices internacionais. Essa nova estrutura é vista como fundamental para impulsionar novas captações e viabilizar aquisições estratégicas fora do país.

A empresa já atua fortemente no mercado externo. Metade da receita vem de operações nos Estados Unidos. Portanto, concentrar sua governança em ambiente regulatório mais maduro pode ser um movimento natural.

Reação positiva do mercado

A possibilidade de valorização impulsionou os papéis da empresa. Nas últimas sessões, as ações JBSS3 acumularam ganhos consideráveis, refletindo o otimismo do mercado diante da reestruturação. Apesar de incertezas sobre a governança, analistas entendem que a listagem em Nova York pode trazer benefícios de longo prazo.

Além disso, a nova estrutura pode facilitar a inclusão em fundos passivos e índices globais, o que tende a aumentar a demanda pelas ações. Outro fator positivo é o possível aumento de visibilidade institucional, já que companhias listadas nos EUA tendem a atrair maior atenção de investidores estrangeiros.

No entanto, o desempenho futuro dependerá da adesão dos acionistas à proposta e da confiança que o novo modelo de governança poderá transmitir ao mercado. Ainda há etapas a serem cumpridas até que a reestruturação se concretize.

Governança divide opiniões

Apesar do entusiasmo do mercado, especialistas levantaram preocupações. A consultoria Institutional Shareholder Services (ISS), referência no setor, recomendou voto contrário à mudança. O principal ponto de crítica é a criação de ações com poder de voto dez vezes maior para os controladores, o que poderia comprometer a proteção dos acionistas minoritários.

Na prática, isso significa que a família Batista, fundadora da empresa, manteria forte controle sobre decisões estratégicas mesmo com participação minoritária no capital. A ISS argumenta que tal configuração reduz a independência da gestão e abre espaço para conflitos de interesse.

Por outro lado, a JBS afirma que o modelo proposto segue práticas comuns entre grandes multinacionais. Segundo a companhia, a experiência dos fundadores e a manutenção do controle são cruciais para garantir estabilidade e alinhamento de longo prazo.

Decisão nas mãos dos acionistas

Embora os controladores tenham se declarado impedidos de votar para evitar conflitos, o destino da proposta será decidido pelos acionistas minoritários. A assembleia do dia 23 de maio será determinante não apenas para o futuro da listagem, mas também para os rumos da governança da empresa.

Se aprovada, a JBS entrará em um seleto grupo de empresas brasileiras com presença formal nos Estados Unidos. Isso pode representar uma mudança significativa em sua trajetória, com oportunidades de crescimento, mas também com novos desafios regulatórios.

A movimentação reforça a tendência de globalização entre empresas brasileiras. Contudo, também reabre debates importantes sobre transparência, direitos dos acionistas e equilíbrio de poder dentro das companhias.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.