Férias tensas

Agosto liga o “modo pânico” nos mercados? Veja o que vem por aí

Economista de renome vê padrão que concentra crises entre agosto e outubro e projeta risco acima da média, mas recomenda cabeça fria e preparo.

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Agosto liga o “modo pânico” nos mercados? Veja o que vem por aí
  • Agosto a outubro formam a janela mais frágil porque a liquidez cai e choques ganham amplitude.
  • Lamont estima risco de 10% para um evento extremo no trimestre e defende preparo sem pânico.
  • A proteção passa por liquidez, disciplina de risco, menos alavancagem e execução cuidadosa.

Agosto não é só praia. Para Owen Lamont, vice-presidente da Acadian Asset Management e ex-professor em Harvard, Yale, Chicago e Princeton, este é o início da “temporada de pânico”. Ele revisou dois séculos de história e encontrou um traço persistente: choques costumam ganhar força quando a liquidez fica rala e as férias reduzem o apetite de risco.

Ainda assim, ele não soa alarme final. Pelas contas do economista, há cerca de 10% de probabilidade de um “desastre épico” entre agosto e outubro, contra 2% no restante do ano. O recado, portanto, é simples: prepare-se melhor, porque eventos raros acontecem, porém a maioria passa sem colapso.

Por que agosto pesa

Agosto concentra menos dinheiro na tela. Gestores tiram férias, formadores de mercado diminuem lotes e, assim, ordens grandes mexem mais com os preços. Com isso, qualquer estresse encontra um mercado mais raso e a oscilação aumenta.

O padrão tem raízes antigas. No século XIX, o “tempo da colheita” drenava recursos das praças do Leste para o interior dos Estados Unidos. Bancos puxavam caixa para financiar safras e o crédito apertava, o que deixava o sistema frágil.

Lamont lembra que a lógica mudou, porém não desapareceu. Mesmo com tecnologia e regulação, agosto e setembro ainda exibem liquidez atipicamente baixa. Portanto, a combinação férias + choques continua perigosa.

O que a história ensina

A lista de episódios é longa. Outubro de 1987 teve a “segunda-feira negra”. Em outubro de 1997 veio a crise asiática. Um ano depois, em setembro de 1998, o LTCM ruiu e espalhou risco.

O “terremoto quant” de agosto de 2007 marcou a memória dos gestores sistemáticos. Um ano depois, em setembro de 2008, o Lehman quebrou e a crise financeira global ganhou escala. Em todos esses casos, a estação ajudou a amplificar o tranco.

O economista vai além e cita pânicos do século XIX e a crise de 1907, todos no eixo agosto-outubro. O padrão não garante novo crash, contudo ele sugere respeito à estatística.

E 2025, o que esperar

Lamont afirma que não vê, hoje, um gatilho óbvio como em 2007. Mesmo assim, ele defende atenção redobrada até outubro. A razão é a mesma de sempre: liquidez mais fina eleva a chance de movimentos exagerados.

O avanço do trabalho remoto pode aliviar um pouco, porque muita gente trabalha da praia. Porém, a referência global segue sendo os Estados Unidos, onde o tamanho do mercado dita o tom. Na Europa, agosto inteiro é de recesso e isso reforça a sazonalidade.

Outros países têm calendário próprio. Na Austrália, por exemplo, o efeito é inverso. No conjunto, portanto, a maré global ainda responde ao eixo de Wall Street.

Como se preparar sem pânico

A mensagem prática é direta. Reforce a disciplina de risco, evite alavancagem gratuita e priorize liquidez para aguentar soluços. Diversifique fontes de retorno e teste cenários de estresse antes de o estresse chegar.

Além disso, reduza ordens grandes em horários rasos e espalhe execuções. Mantenha stops pensados, não impulsivos, e revise contrapartes. Em períodos finos, execução importa tanto quanto tese.

Por fim, mantenha o psicológico em dia. Volatilidade de agosto costuma assustar, porém não dura para sempre. Gestão ativa, caixa tático e comunicação clara ajudam a atravessar a estação sem decisões ruins.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.