Crise no crédito

Alerta vermelho nas finanças públicas: veja por que os dividendos sumiram

Com Banco do Brasil pressionado e Eletrobras fora do jogo, estimativas indicam queda drástica na arrecadação com lucros de estatais.

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divida publica
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  • Arrecadação com dividendos deve cair 61% no 2T25, totalizando R$ 5 bilhões, segundo corretoras;
  • Banco do Brasil é o principal responsável pela queda, com aumento da inadimplência e redução do payout;
  • Petrobras sustenta o caixa do governo, enquanto Eletrobras deve ficar fora da distribuição neste trimestre.

O governo federal enfrenta um duro revés fiscal neste segundo trimestre de 2025. Segundo estimativas de corretoras e casas de análise, a arrecadação de dividendos pagos por estatais como Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobras deve somar apenas R$ 5 bilhões. O número representa um corte de 61% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a União recebeu R$ 13 bilhões.

Mesmo se comparado ao primeiro trimestre deste ano, o valor preocupa. Entre janeiro e março, os repasses chegaram a R$ 10 bilhões. Agora, com balanços prestes a serem divulgados, o governo já sabe que não poderá contar com o reforço bilionário que tanto esperava. A nova realidade, portanto, acende um alerta para as contas públicas.

Banco do Brasil decepciona com repasse menor

Boa parte da frustração fiscal vem do Banco do Brasil. A instituição deve reduzir drasticamente os dividendos pagos à União, reflexo direto da piora na inadimplência do crédito agrícola, varejista e corporativo. Esse cenário levou a provisões maiores e margens menores para distribuir lucros.

A corretora Monte Bravo projeta dividendos de apenas R$ 1,5 bilhão para o BB. Com 50% de participação, o governo receberia R$ 750 milhões. Isso representa uma queda de mais de 60% em relação ao 2T24. No semestre anterior, o montante ainda foi 70% superior, segundo os analistas.

Outras casas apresentam números diferentes, mas a tendência permanece. A Genial estima R$ 2,3 bilhões em dividendos do banco, o que garantiria R$ 1,2 bilhão à União. Já a RJ+ Investimentos calcula uma faixa entre R$ 1,08 bilhão e R$ 1,22 bilhão. A Suno Research, por sua vez, trabalha com dois cenários: um retorno de R$ 825 milhões com payout de 30% ou até R$ 1,1 bilhão com 40%.

Petrobras sustenta dividendos e evita desastre

Em meio à frustração com o BB, a Petrobras surge como pilar de sustentação. Mesmo com um cenário menos favorável que em 2024, a petroleira ainda deve pagar entre R$ 9,7 bilhões e R$ 16 bilhões em dividendos. Como a União detém 29% da empresa, a fatia pública ficará entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4,6 bilhões.

Esse número garante um nível próximo ao registrado no primeiro trimestre, quando a estatal repassou R$ 4,8 bilhões ao Tesouro. Porém, fica bem abaixo do pico de R$ 10,7 bilhões distribuídos no 2T24. Ainda assim, analistas veem chance de reversão parcial desse quadro.

Segundo Ygor Bastos, da Genial Investimentos, o plano estratégico da Petrobras reservou até US$ 10 bilhões para dividendos extraordinários. Como apenas US$ 3,4 bilhões já foram pagos, há margem para novos repasses. Bastos acredita que parte desses valores pode ser antecipada neste trimestre, o que aliviaria as contas públicas.

Eletrobras deve ficar de fora da distribuição

A Eletrobras, por outro lado, dificilmente contribuirá neste momento. Após a privatização, a fatia econômica da União caiu para 26%. Além disso, a companhia costuma distribuir dividendos apenas no balanço anual. Por esse motivo, a expectativa de repasse no 2T25 é baixa.

Apesar disso, a Suno Research considera possível um lucro de até R$ 2 bilhões no período. Com um payout de 50%, a União poderia receber R$ 400 milhões. A Genial adota visão mais conservadora, projetando R$ 160 milhões. Ainda assim, os valores são considerados incertos.

No 1T25, a Eletrobras repassou R$ 635 milhões. Caso mantenha ritmo semelhante no segundo semestre, poderá entregar um dividend yield de até 6% no consolidado do ano. No entanto, para o caixa federal, o impacto será nulo agora. O alívio, se vier, será apenas em 2026.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.