Retomando as atenções

Ambev (ABEV3) surpreende o mercado, dispara mais que o Ibovespa, mas analistas acendem alerta vermelho

Expectativa por dividendos extraordinários impulsiona o papel, mas casas veem fundamentos estagnados e recomendam cautela.

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Acoes da Ambev ABEV3 para 2020 vale a compra
Acoes da Ambev ABEV3 para 2020 vale a compra
  • Setor sofre com queda no sell-out, pressão de preços e volatilidade no trimestre.
  • ABEV3 sobe mais que o Ibovespa com expectativa de dividendos, mas sem melhora estrutural.
  • XP e Goldman mantêm visão cautelosa diante de consumo fraco e competição alta.

A Ambev (ABEV3) voltou ao centro das atenções do mercado ao superar o desempenho do Ibovespa desde outubro, acumulando alta de 16% enquanto o índice avançou 10% no mesmo período. O ritmo forte de valorização acompanha a especulação crescente sobre novos dividendos antes da mudança tributária prevista para 2026.

Mesmo com o rali, analistas seguem cautelosos. Para casas como XP Investimentos e Goldman Sachs, o movimento de preço não reflete uma melhora estrutural do setor e ocorre em meio a um valuation considerado elevado para o atual cenário competitivo.

Mercado reage forte, mas sem melhora real no setor

A XP liga o avanço das ações à expectativa por distribuições extraordinárias, impulsionadas pela corrida de empresas para antecipar pagamentos antes da nova cobrança de imposto sobre proventos acima de R$ 50 mil mensais. Mesmo assim, os analistas destacam que os fundamentos seguem pressionados, já que a companhia negocia a 15,9 vezes o lucro esperado para 2026, patamar visto como caro.

O IBGE reforça essa leitura ao mostrar queda de 1,3% na produção de bebidas alcoólicas em outubro. Os dados levaram a XP a revisar para –3,7% sua projeção anual, indicando um recuo do consumo per capita para 4,4 litros em 2025. A casa avalia que a desaceleração da queda parece estar mais ligada à antecipação de sell-in no fim do ano do que à melhora real do consumo.

O comportamento irregular da produção, segundo a XP, também dificulta interpretar tendências consistentes para o trimestre, ampliando a percepção de fragilidade no setor.

Goldman reforça pessimismo e aponta desafios do negócio

O Goldman Sachs mantém recomendação de venda para ABEV3, com preço-alvo de R$ 1,95, cerca de 24% abaixo do fechamento anterior. Para o banco, a inflação da cerveja segue pressionada, com avanço de 60 pontos-base, enquanto a demanda acumula queda de 4% nos últimos 12 meses.

Outro ponto crítico é a estratégia de preços. Conforme o Goldman, a Ambev adotou uma postura mais promocional, reduzindo o preço médio em 2% no quarto trimestre, período historicamente marcado por reajustes. Com demanda fraca, custos elevados e aumento da oferta após expansões em Lages e Uberlândia, o setor enfrenta maior competição.

Mesmo assim, o banco admite espaço para uma alta de curto prazo, favorecida pela expectativa por anúncios de capital e pela antecipação de dividendos, movimento já observado em empresas como Itaú (ITUB4) e AXIA (AXIA3).

Metanol aumenta incertezas e afeta consumo

Outubro também foi marcado pelos casos de contaminação por metanol, inicialmente vistos como possível gatilho de crescimento para o consumo de cerveja.

Porém, o efeito foi negativo, com queda significativa no sell-out, variando de dígitos médios a dígitos baixos de dois dígitos ao longo do mês.

Para a XP, a leve melhora captada pelos índices industriais tem relação direta com uma estratégia agressiva de ganho de volume por parte de todos os players, e não com uma recuperação consistente do consumo.

Assim, mesmo com o otimismo sobre dividendos, o cenário operacional da Ambev permanece incerto.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.