
- Setor sofre com queda no sell-out, pressão de preços e volatilidade no trimestre.
- ABEV3 sobe mais que o Ibovespa com expectativa de dividendos, mas sem melhora estrutural.
- XP e Goldman mantêm visão cautelosa diante de consumo fraco e competição alta.
A Ambev (ABEV3) voltou ao centro das atenções do mercado ao superar o desempenho do Ibovespa desde outubro, acumulando alta de 16% enquanto o índice avançou 10% no mesmo período. O ritmo forte de valorização acompanha a especulação crescente sobre novos dividendos antes da mudança tributária prevista para 2026.
Mesmo com o rali, analistas seguem cautelosos. Para casas como XP Investimentos e Goldman Sachs, o movimento de preço não reflete uma melhora estrutural do setor e ocorre em meio a um valuation considerado elevado para o atual cenário competitivo.
Mercado reage forte, mas sem melhora real no setor
A XP liga o avanço das ações à expectativa por distribuições extraordinárias, impulsionadas pela corrida de empresas para antecipar pagamentos antes da nova cobrança de imposto sobre proventos acima de R$ 50 mil mensais. Mesmo assim, os analistas destacam que os fundamentos seguem pressionados, já que a companhia negocia a 15,9 vezes o lucro esperado para 2026, patamar visto como caro.
O IBGE reforça essa leitura ao mostrar queda de 1,3% na produção de bebidas alcoólicas em outubro. Os dados levaram a XP a revisar para –3,7% sua projeção anual, indicando um recuo do consumo per capita para 4,4 litros em 2025. A casa avalia que a desaceleração da queda parece estar mais ligada à antecipação de sell-in no fim do ano do que à melhora real do consumo.
O comportamento irregular da produção, segundo a XP, também dificulta interpretar tendências consistentes para o trimestre, ampliando a percepção de fragilidade no setor.
Goldman reforça pessimismo e aponta desafios do negócio
O Goldman Sachs mantém recomendação de venda para ABEV3, com preço-alvo de R$ 1,95, cerca de 24% abaixo do fechamento anterior. Para o banco, a inflação da cerveja segue pressionada, com avanço de 60 pontos-base, enquanto a demanda acumula queda de 4% nos últimos 12 meses.
Outro ponto crítico é a estratégia de preços. Conforme o Goldman, a Ambev adotou uma postura mais promocional, reduzindo o preço médio em 2% no quarto trimestre, período historicamente marcado por reajustes. Com demanda fraca, custos elevados e aumento da oferta após expansões em Lages e Uberlândia, o setor enfrenta maior competição.
Mesmo assim, o banco admite espaço para uma alta de curto prazo, favorecida pela expectativa por anúncios de capital e pela antecipação de dividendos, movimento já observado em empresas como Itaú (ITUB4) e AXIA (AXIA3).
Metanol aumenta incertezas e afeta consumo
Outubro também foi marcado pelos casos de contaminação por metanol, inicialmente vistos como possível gatilho de crescimento para o consumo de cerveja.
Porém, o efeito foi negativo, com queda significativa no sell-out, variando de dígitos médios a dígitos baixos de dois dígitos ao longo do mês.
Para a XP, a leve melhora captada pelos índices industriais tem relação direta com uma estratégia agressiva de ganho de volume por parte de todos os players, e não com uma recuperação consistente do consumo.
Assim, mesmo com o otimismo sobre dividendos, o cenário operacional da Ambev permanece incerto.