
- XP rebaixa Ambev para “venda” e vê downside de 12% no preço-alvo
- Clima frio, alta de custos e concorrência da Heineken pressionam vendas e margens
- Medicamentos como Ozempic reduzem consumo de álcool e ameaçam o futuro da cerveja
O mercado financeiro recebeu mais um choque com relação à Ambev (ABEV3). A XP Investimentos cortou a recomendação do papel de “neutro” para “venda”, reduzindo o preço-alvo de R$ 13,40 para R$ 10,90.
A decisão reflete um cenário em que clima desfavorável, avanço da rival Heineken e até o impacto de medicamentos como Ozempic colocam pressão sobre a maior cervejaria do país. Segundo os analistas, o desempenho da Ambev já mostra sinais claros de desgaste, e a tendência é de deterioração das margens ao longo dos próximos anos.
Clima congela vendas
O inverno de 2025 foi um dos mais frios em décadas e trouxe reflexos imediatos no consumo. Em São Paulo, as temperaturas foram as mais baixas desde 1994, o que reduziu a procura por bebidas alcoólicas.
Nesse sentido, a XP projeta uma queda de 6,1% no volume de cerveja vendido no terceiro trimestre, em comparação ao mesmo período de 2024.
Então, esse recuo contrasta com o desempenho positivo do ano anterior, quando condições climáticas favoráveis impulsionaram a demanda.
Agora, a base de comparação elevada deixou o resultado de 2025 ainda mais pressionado.
Heineken intensifica a disputa
Além do fator climático, a Ambev enfrenta pressão crescente da Heineken, que deve inaugurar uma nova planta no Brasil ainda este ano.
Sendo assim, o movimento deve intensificar a guerra de preços e forçar a líder de mercado a adotar margens menores para preservar participação.
Apesar de a Ambev poder ganhar até 130 pontos-base em market share, parte desse avanço será conquistado com sacrifício de rentabilidade.
Desse modo, a XP alerta que o custo por hectolitro deve subir entre 5,5% e 8,5% em 2025, pressionado por insumos como milho e alumínio.
Ozempic e a mudança no consumo
Outro fator de preocupação é a mudança de comportamento da Geração Z. Apenas 45% desse público consome bebidas alcoólicas, e a tendência de crescimento da cerveja sem álcool não compensa a queda no consumo dos produtos principais.
Além disso, medicamentos como Ozempic e Mounjaro vêm alterando padrões de ingestão.

Portanto, estudos citados pela XP indicam que usuários dessas drogas podem reduzir em até 50% o consumo de álcool, o que coloca uma nova ameaça ao setor.
Perspectivas e múltiplos caros
Com margens em queda de 32,5% em 2025 para projeções de 30,7% em 2027, a XP considera injustificável a negociação atual da Ambev a 14 vezes o lucro estimado para 2026.
Ademais, esse é o múltiplo mais alto desde 2023 e, na visão dos analistas, abre espaço para um desempenho inferior da ação no curto prazo.
Por fim, a empresa ainda vale R$ 195 bilhões na B3, mas a pressão sobre resultados e margens acende um sinal de alerta para investidores que buscam estabilidade no portfólio.