Fugindo das restrições

Argentinos lucram com “rulo” em stablecoins e driblam o peso de Milei

Estratégia de arbitragem com stablecoins garante lucros rápidos de até 4% e expõe falhas nos controles cambiais do governo Milei.

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Argentinos lucram com “rulo” em stablecoins e driblam o peso de Milei
  • Stablecoins viram ferramenta de arbitragem e proteção cambial na Argentina.
  • Lucros chegam a 4% por operação, mesmo com risco elevado.
  • Governo Milei enfrenta fuga ao digital, expondo fragilidade dos controles cambiais.

Argentinos estão recorrendo a stablecoins para fugir das restrições cambiais impostas pelo governo de Javier Milei. Com o peso pressionado e o câmbio oficial artificialmente valorizado, investidores comuns viram uma oportunidade para lucrar.

A operação, conhecida como “rulo”, permite ganhos de até 4% por transação, aproveitando a diferença entre o câmbio oficial e o paralelo, em meio à nova onda de incertezas antes das eleições legislativas.

Criptomoedas viram refúgio financeiro

Com a inflação ainda em níveis elevados e a confiança no peso em queda, as stablecoins se tornaram uma alternativa real para proteção de capital. O chamado “rulo” funciona de forma simples: o investidor compra dólares, converte-os em stablecoins e depois os revende em pesos pelo câmbio paralelo, obtendo lucro imediato.

Corretoras locais confirmam o movimento. A Ripio registrou aumento semanal de 40% nas vendas de stablecoins para pesos desde o início de outubro, impulsionada pela busca de arbitragem.

Segundo operadores, a prática se popularizou após o Banco Central da Argentina proibir a revenda de dólares por 90 dias, o que forçou os investidores a recorrerem ao mercado cripto para manter a rentabilidade.

Risco alto, lucro rápido

O corretor Ruben López, de Buenos Aires, afirma que opera com stablecoins “todos os dias” para proteger-se da inflação. Para ele, o mercado digital é uma forma de escapar da instabilidade crônica do peso e das restrições estatais.

Analistas locais consideram que a arbitragem cambial pode gerar ganhos rápidos, mas também envolve riscos elevados de liquidez e volatilidade. Mesmo assim, o lucro de 3% a 4% por operação atrai milhares de usuários em plataformas como Belo e Ripio.

O CEO da Belo, Manuel Beaudroit, destaca que “a diferença cambial cria oportunidades, mas é uma situação incomum e passageira”. Ainda assim, a adesão em massa mostra como o país está digitalizando sua economia de forma espontânea.

Criptos consolidam papel na América Latina

A crise argentina acelerou o uso das criptomoedas como alternativa de estabilidade. Países como Venezuela e Bolívia também vêm adotando stablecoins para escapar de políticas cambiais restritivas.

Em meio à instabilidade, o próprio Milei, entusiasta declarado do Bitcoin, vê o avanço do setor como inevitável. Desde sua posse, o presidente conseguiu reduzir a inflação anual de quase 300% para cerca de 30%, mas o peso já perdeu três quartos de seu valor.

Assim, o “rulo” se transformou em símbolo da nova economia argentina: digital, descentralizada e cada vez mais dependente das criptos para sobreviver.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.