
- Azul e Gol encerraram negociações de fusão e rescindiram o codeshare firmado em 2024
- Latam se mantém líder isolada no mercado aéreo, enquanto Azul e Gol enfrentam pressões individuais
- Investidores veem frustração no curto prazo, com impacto negativo sobre as ações das companhias
O mercado acompanhava há meses o desenrolar de uma possível fusão entre Azul (AZUL4) e Gol (GOLL34), que poderia criar a maior companhia aérea do Brasil. O projeto começou com um memorando de entendimentos assinado em janeiro, mas chegou ao fim nesta quinta-feira (25), quando as empresas anunciaram oficialmente a desistência.
Além de encerrar as conversas, as companhias também rescindiram o acordo de codeshare, assinado em maio de 2024, que permitia a integração parcial de suas malhas aéreas. Ambas, no entanto, garantiram que os bilhetes já emitidos seguirão válidos, preservando os passageiros.
Da expectativa à frustração
Quando Abra, controladora da Gol, iniciou as tratativas com a Azul, analistas previam um movimento que mudaria o mapa do setor aéreo brasileiro. A fusão colocaria Gol e Azul à frente da Latam, atual líder, que detém 41,1% do mercado, contra 30,1% da Gol e 28,4% da Azul.
No entanto, a complexidade financeira pesou. A Azul concentrou esforços no processo de Chapter 11 nos Estados Unidos, que visa reestruturar dívidas, e deixou de priorizar a fusão. Segundo Abra, as negociações ficaram paralisadas por meses, sem avanço significativo.
O Cade também havia levantado alertas em setembro sobre anúncios prematuros, reforçando que qualquer operação deveria passar pela avaliação das autoridades regulatórias antes de ganhar caráter oficial.
O impacto no setor aéreo
Com o fim das negociações, a Latam mantém-se líder isolada, enquanto Gol e Azul seguem disputando espaço de forma independente. Para especialistas, o movimento reduz a expectativa de consolidação no setor, que poderia gerar sinergias operacionais, ganho de escala e redução de custos.
Sem a fusão, ambas precisarão continuar enfrentando pressões estruturais, como câmbio elevado, preço do combustível e volatilidade da demanda. O cenário competitivo permanece desafiador, mas abre espaço para que cada empresa explore estratégias próprias de rentabilidade.
O governo do Mato Grosso já suspendeu incentivos fiscais à Azul após o fechamento de rotas regionais, o que mostra que as companhias também enfrentarão pressão política e regulatória.
Reação de investidores e ações
No mercado financeiro, a frustração pode pesar sobre os papéis da Azul e da Gol. A Azul, que vinha mostrando recuperação com lucro líquido de R$ 1,29 bilhão no 2º trimestre, deve enfrentar questionamentos sobre a capacidade de seguir em trajetória de crescimento sem a escala que a fusão proporcionaria.
A Gol, que reduziu prejuízos mas ainda fechou o trimestre no vermelho em R$ 1,5 bilhão, pode sentir ainda mais. Para investidores, a expectativa de sinergias desaparece e o risco operacional continua elevado.
Analistas acreditam que, no curto prazo, a notícia deve trazer pressão negativa para as ações, já que o mercado precificava algum grau de integração futura. No médio prazo, os resultados operacionais e a gestão de custos devem ser determinantes para a performance dos papéis.