
O anúncio do pedido de recuperação judicial da Azul (AZUL4) nos Estados Unidos, na última quarta-feira (28), sob o Chapter 11, jogou mais lenha na fogueira do setor aéreo brasileiro.
As ações da companhia já operavam em derrubada desde que os números financeiros do 1° trimestre foram divulgados. Diante disso, muitos investidores apostavam que o anúncio da reestruturação traria algum alívio para os papéis.
No entanto, o pregão passado foi negativo para AZUL4 e nesta quinta-feira (29) segue o mesmo ritmo. Por volta das 10:30, as ações caíam 3,88%, cotadas a R$ 0,99.
Agora uma pergunta que surge entre investidores é: quando as ações da companhia vão parar de cair?
Segundo o BTG Pactual, a resposta é complexa, mas não pessimista — pelo menos não no longo prazo. Para o banco, a ação pode encontrar um piso à medida que o mercado absorve o plano de recuperação e os resultados comecem a aparecer.
Isso porque o BTG ressalta que, embora a Azul tenha resistido o quanto pôde, o nível de alavancagem financeira já não era mais sustentável, com dívida líquida de R$ 31,3 bilhões e alavancagem de 5,2x o EBITDA.
“Apesar dos intensos esforços em gestão de passivos e reestruturação da dívida, a alavancagem financeira manteve-se elevada para a Azul, especialmente diante da recente volatilidade cambial e do aumento das taxas de juros no Brasil”, analisam os especialistas do banco.
Quando o fundo do poço vira recomeço?
O BTG acredita que o pedido de Chapter 11 pode ser o ponto de inflexão necessário para que a companhia “respire” novamente.
O plano de recuperação prevê eliminar mais de US$ 2 bilhões em dívidas e captar até US$ 950 milhões em novo capital, com apoio de pesos-pesados como United Airlines, American Airlines e a arrendadora AerCap.
“Trata-se de uma tentativa clara de reorganização para garantir viabilidade operacional e financeira no médio prazo”, explica.
O banco chama atenção para o compromisso de US$ 1,6 bilhão em financiamento DIP e a projeção da Azul de sair do Chapter 11 até o fim de 2025, com alavancagem recuando para 3x o EBITDA, e 1,7x em 2027.
Tropeços no plano de voo
Se por um lado a estrutura de capital será ajustada, por outro, o plano de negócios foi revisado para baixo.
A Azul agora prevê crescimento mais moderado, com redução na frota planejada para 170 aeronaves em 2025 (ante 201) e queda na receita estimada de R$ 27,9 bilhões para R$ 24,9 bilhões em 2027.
“Essa revisão busca aumentar a resiliência operacional e reduzir a exposição à volatilidade cambial e à alavancagem”, diz o BTG, que vê como acertada a decisão de concentrar a frota na plataforma E2, mais eficiente e moderna, e descontinuar modelos antigos como o Embraer E1.
Setor aéreo em turbulência crônica
Com o pedido da Azul, as três grandes companhias aéreas brasileiras já recorreram ao Chapter 11 desde a pandemia.
A Latam saiu fortalecida e retomou a expansão. A Gol ainda tenta reorganizar sua estrutura, com apoio de novo financiamento.
A Azul, agora, tenta garantir que esse seja também um ponto de recomeço — e não o início de um pouso forçado.
E a fusão com a Gol?
Segundo o BTG, a tão comentada fusão com a Gol não está descartada, mas saiu do radar imediato. “A Azul afirmou que a fusão deixou de ser imprescindível neste momento. O foco é resolver as questões do balanço e fortalecer a estrutura de capital”, afirma o banco.
Enquanto isso, a empresa segue negociando financiamento via BNDES e Citibank, com garantias do governo. Se obtido, pode aliviar parte da pressão financeira de curto prazo.