
A linha de crédito de R$ 4 bilhões aprovada pelo Congresso Nacional em agosto do ano passado para socorrer as companhias aéreas, como Gol (GOLL4), Azul (AZUL4) e Latam, só deve começar a ser liberada no fim de setembro, com ao menos um mês de atraso em relação ao cronograma divulgado pelo governo em abril.
A nova estimativa foi informada pelo Ministério de Portos e Aeroportos ao GLOBO após questionamento sobre o andamento da medida.
O financiamento, anunciado como um dos principais instrumentos de apoio ao setor aéreo em crise desde a pandemia, previa a liberação dos recursos a partir de agosto deste ano.
O ministério não detalhou os motivos do atraso, mas afirmou que trabalha na regulamentação da linha e que a liberação dos valores está condicionada à finalização das regras por um Comitê Gestor interministerial.
Crédito condicionado a contrapartidas
A linha de crédito será dividida entre as empresas conforme participação no mercado doméstico.
Companhias com mais de 1% de participação poderão tomar até R$ 1,2 bilhão, enquanto aquelas com fatia inferior terão acesso a até R$ 200 milhões.
As empresas também deverão apresentar contrapartidas relacionadas à sustentabilidade, fomento da aviação regional e ampliação da frota.
Segundo o governo, o programa é uma iniciativa inédita e oferecerá crédito mais barato e em reais, o que ajuda a mitigar o risco cambial, um dos principais problemas enfrentados pelas empresas do setor.
Azul cita atraso como fator de crise
A Azul, que entrou com pedido de reestruturação via Chapter 11 nos Estados Unidos nesta semana, atribuiu parte da sua crise financeira à demora na liberação dos recursos públicos.
A companhia informou ao Tribunal de Falências de Nova York que esperava complementar uma captação privada de US$ 500 milhões com o crédito aprovado pelo Congresso e uma oferta subsequente de ações – tentativa que não obteve sucesso.
Segundo a Azul, o impacto da pandemia, a disparada do dólar, os juros elevados e as enchentes no Rio Grande do Sul agravaram ainda mais o cenário. A empresa calcula prejuízo de cerca de 10% nas receitas e busca reestruturar aproximadamente US$ 2 bilhões em dívidas.
Governo afirma que medida segue em curso
Em nota, o Ministério de Portos e Aeroportos reiterou o compromisso com o socorro ao setor aéreo, mas não estabeleceu uma data exata para o início da liberação dos recursos.
O Comitê Gestor, criado em abril com representantes também da Fazenda e da Casa Civil, é o responsável por definir as regras de acesso à linha de crédito.
O ministro Sílvio Costa Filho voltou a destacar que a crise da aviação começou com a pandemia de Covid-19 e foi agravada pela escassez de aeronaves novas no mercado global. “Essa iniciativa tem como objetivo preservar empregos, garantir a conectividade aérea e contribuir para a recuperação do setor”, afirmou.