
- Banco do Brasil endurece crédito a produtores que recorrerem à recuperação judicial, exigindo garantias mais rígidas e acelerando cobrança.
- Inadimplência crescente eleva provisões e reduz lucro, refletindo mudanças no comportamento do agronegócio.
- Entrada de novos financiadores e priorização de pagamentos fora do banco alteram dinâmica histórica de crédito rural.
O Banco do Brasil (BBAS3) decidiu que produtores rurais que entrarem com recuperação judicial terão o crédito suspenso. Felipe Prince, vice-presidente de riscos, afirmou que esses clientes não terão acesso a empréstimos “hoje, amanhã nem nunca mais”.
Além disso, a instituição aumentou a exigência de garantias e reduziu prazos de pagamento. O objetivo é conter perdas em um momento de inadimplência crescente e mudanças no comportamento do setor agropecuário.
Garantias mais rígidas e cobrança acelerada
Agora, o banco substitui hipotecas pela alienação fiduciária, garantindo a propriedade do bem até a quitação da dívida. Essa medida eleva o custo do crédito e diminui a velocidade de novos desembolsos.
O prazo para contato após atraso caiu de 30 para 5 dias, enquanto a ida à Justiça passou de 90-180 dias para apenas 30 dias. Essas mudanças buscam reduzir riscos e proteger a carteira rural.
Além disso, o BB usa inteligência artificial para classificar clientes segundo capacidade de pagamento. Assim, identifica onde é possível ampliar crédito, renegociar dívidas ou suspender empréstimos.
Impacto na inadimplência e lucro
A taxa de inadimplência da carteira rural subiu para 3,5%, um aumento de 2,2 pontos percentuais em 12 meses. Isso levou o retorno sobre patrimônio líquido do banco de 21,6% para 8,4%, refletindo maiores provisões para perdas.
O total de empréstimos em atraso ligados à recuperação judicial soma R$ 5,4 bilhões, envolvendo 808 produtores. Mesmo produtores sem proteção judicial registraram atrasos, mostrando que o setor enfrenta desafios profundos.
Além disso, a entrada de novos financiadores, como os Fiagros, alterou a dinâmica. Muitos produtores passaram a priorizar pagamentos a esses fundos, comprometendo ainda mais a relação histórica com o BB.
Mudança de comportamento no agronegócio
Historicamente, o Banco do Brasil era prioridade para produtores, que respondiam por cerca de 60% do crédito rural, incluindo linhas com juros subsidiados. Agora, o comportamento mudou e os calotes cresceram.
Os produtores buscam Fiagros ou recorrem à recuperação judicial, impedindo que o banco tome terras dadas como garantia. Isso obriga o BB a adaptar a oferta de crédito à nova realidade do setor.
Segundo Prince, “não existe dívida que não possa ser negociada conosco, exceto se o produtor pedir recuperação judicial”. O banco segue disponível para renegociações, mas endurece regras para reduzir riscos futuros.