
- Banco do Brasil espera reduzir inadimplência do agro com MP 1.314/2025 e apoio de R$ 12 bilhões do Tesouro.
- 96% da carteira de crédito rural segue adimplente, mas o índice subiu para 3,49% em junho.
- Luiz Barsi vê potencial de valorização do BBAS3, mesmo após queda de 60% no lucro em 2025.
O Banco do Brasil (BBAS3) aposta na Medida Provisória 1.314/2025 como saída para reduzir a inadimplência do agronegócio, que atingiu 3,49% em junho, contra 1,32% um ano antes. A iniciativa autoriza a renegociação de dívidas de produtores e cooperativas afetados por eventos climáticos.
Segundo Gilson Bittencourt, vice-presidente de Agronegócios do banco, a MP ajudará tanto quem já renegocia quanto quem ainda está adimplente, mas enfrenta fluxo de caixa comprometido. A expectativa é que a resolução do Conselho Monetário Nacional seja publicada nos próximos dias.
Impacto imediato
A carteira do agro representa um terço do total de R$ 404,9 bilhões do banco e vem sendo um dos principais pontos de pressão sobre os resultados. O avanço da inadimplência afetou diretamente o lucro do BB no primeiro semestre.
A presidente do banco, Tarciana Medeiros, já havia projetado uma “redução gradual” no índice, lembrando que 48 mil clientes estão inadimplentes entre 15 e 90 dias. Essa transição, segundo ela, será fundamental para aliviar a curva de provisões.
Mesmo com o aumento, Bittencourt reforça que 96% da carteira de crédito rural segue adimplente, mostrando que o problema, embora relevante, ainda está concentrado em parte dos clientes.
Como funcionará a MP
A MP 1.314 prevê até R$ 12 bilhões do Tesouro Nacional para renegociação, com juros subsidiados abaixo da Selic. A medida atenderá produtores que sofreram perdas em duas ou mais safras entre 2020 e 2025.
Além do crédito subsidiado, haverá linha de recursos livres operada por instituições financeiras, ampliando o alcance. Estima-se que até 100 mil produtores rurais possam ser beneficiados, especialmente em estados como o Rio Grande do Sul, que acumula seis safras consecutivas de perdas.
O BNDES será responsável por repassar os recursos para os agentes financeiros, enquanto o Banco do Brasil deve acessar cerca de 40% do volume total. A expectativa é que as operações comecem até o fim deste mês.
Perspectiva do mercado
Analistas destacam que a linha de renegociação em até nove anos é um diferencial, pois dá fôlego ao setor e melhora a previsibilidade para o banco. Para grandes produtores, o governo ainda ofereceu incentivo tributário para estimular operações com taxas livres.
Segundo Bittencourt, parte relevante da inadimplência vem justamente de grandes produtores, que já operam acima de R$ 3 milhões. Nesse caso, a renegociação alonga prazos e reduz riscos imediatos.
O executivo ainda reforçou que o banco vai estimular contratos pós-fixados, permitindo que quedas futuras na Selic se transformem em ganhos para os produtores.
Visão de Luiz Barsi
O megainvestidor Luiz Barsi acredita que o momento é desafiador, mas não o pior da história do BB. Ele lembrou que nos anos 1990 o banco só sobreviveu graças ao aporte da União, o que mostra a força do acionista controlador.
Atualmente, o BBAS3 negocia a R$ 21 por ação, abaixo do valor patrimonial de R$ 30. Para Barsi, isso representa potencial de valorização nos próximos trimestres, caso os resultados voltem a crescer.
Ele também afirmou que os dividendos suspensos devem ser retomados em breve, reforçando a atratividade do papel para investidores de longo prazo.