
- Banco do Brasil enfrenta pressão de inadimplência e pode reduzir dividendos; analistas recomendam cautela até a divulgação dos resultados.
- BB Seguridade mantém dividendos robustos e diversificação de receitas, mas depende do BB para crescer.
- Diversificação entre os papéis pode funcionar, mas é preciso entender os riscos compartilhados e o impacto da crise do agro em ambas as empresas.
A crise no crédito rural colocou o Banco do Brasil (BBAS3) sob forte pressão e arrastou consigo a BB Seguridade (BBSE3), alimentando dúvidas entre os investidores. Apesar dos modelos de negócios distintos, ambas as empresas compartilham a mesma raiz: a exposição ao agronegócio e a dependência operacional entre si.
Com os balanços do segundo trimestre se aproximando, o mercado aguarda sinais de reversão. Enquanto o Banco do Brasil publica seus resultados no dia 13 de agosto, a BB Seguridade divulga antes, no dia 4. Até lá, cresce a incerteza sobre a estratégia ideal para quem já investe ou deseja entrar nessas ações.
BBAS3: entre inadimplência e queda no lucro
O Banco do Brasil tenta atravessar um dos momentos mais delicados dos últimos anos. A inadimplência elevada no setor agropecuário, combinada com o aumento dos pedidos de recuperação judicial, compromete a rentabilidade da instituição. Analistas apontam que o ciclo de crédito rural mais longo tende a prolongar a crise até, pelo menos, o final de 2025.
A situação se agravou após o primeiro trimestre, quando o banco reviu sua projeção de payout. A estimativa caiu de até 45% do lucro para 40%, com analistas já considerando uma redução para até 30% nos próximos trimestres. Além disso, há risco de o tradicional calendário com oito pagamentos de dividendos por ano não se manter em 2026.
Apesar do cenário adverso, a instituição tenta conter o avanço das recuperações judiciais com garantias mais rígidas, como a alienação fiduciária. Especialistas avaliam a medida como positiva no longo prazo, embora com efeitos limitados no curto. Ainda assim, a expectativa é de queda no Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE), pressionando o valor da ação.
BBSE3: dividendos resilientes, mas dependência preocupa
A BB Seguridade, embora mais resiliente, também sofre os efeitos da crise. A emissão de seguros rurais recuou 40% no primeiro trimestre, sinalizando os impactos da inadimplência no agro. Mesmo assim, a companhia anunciou R$ 4 bilhões em dividendos para o segundo semestre, o que representa um dividend yield acima de 5%.
Apesar da pressão sobre as receitas, analistas destacam a força da BB Seguridade em diferentes ramos, como seguros de vida, habitacional, empresarial e prestamista. Além disso, a empresa se beneficia dos juros altos, que impulsionam os resultados financeiros. A atuação diversificada e o uso de resseguro em seguros agrícolas reduzem o risco direto da crise no campo.
No entanto, a dependência dos canais de distribuição do Banco do Brasil permanece um fator de risco. O contrato entre as empresas vai até 2033, mas a renovação, embora sinalizada, ainda não foi formalizada. Analistas alertam que mudanças operacionais ou políticas no BB podem afetar diretamente a seguradora.
Ter as duas ações é diversificação ou sobreposição?
O debate sobre manter BBAS3 e BBSE3 na carteira divide os especialistas. Alguns defendem que os ativos se complementam: enquanto o banco oferece maior potencial de valorização, a seguradora entrega previsibilidade e consistência nos proventos. Nesse caso, a combinação equilibraria risco e retorno para investidores mais defensivos.
Por outro lado, há quem veja redundância. Ambos os papéis são sensíveis à mesma estrutura operacional. Em momentos de instabilidade no Banco do Brasil, a BB Seguridade tende a sofrer impactos colaterais. Assim, a diversificação se torna questionável, especialmente no atual cenário de incerteza.
Para investidores expostos ao Banco do Brasil, analistas sugerem cautela antes de realizar prejuízo. Uma estratégia seria manter a posição e concentrar novos aportes na seguradora, que apresenta maior previsibilidade. Outra possibilidade é aguardar os balanços do segundo trimestre para avaliar com mais clareza os próximos passos.