
- Bitcoin atinge menor nível de volatilidade desde 2015 e opera em estabilidade histórica
- Entrada de investidores institucionais e ETFs reduz solavancos da criptomoeda
- Debate sobre BTC como ativo de reserva ganha força, mas só deve se consolidar até 2035
O bitcoin atingiu em agosto o menor nível de volatilidade desde janeiro de 2015, segundo dados da Elos Ayta Consultoria. Pela primeira vez em uma década, o indicador recuou abaixo dos 40 pontos, sinalizando uma mudança estrutural no comportamento da maior criptomoeda do mundo.
A queda expressiva da oscilação reforça o interesse de investidores institucionais e reacende a discussão sobre o reconhecimento do BTC como ativo de reserva global, ao lado do ouro.
Oscilação mínima surpreende o mercado
Após superar os US$ 124 mil recentemente, o bitcoin opera no patamar de US$ 115,3 mil, com variação diária de apenas 0,23%. Embora a diferença de preços ainda seja significativa, o que chama a atenção é a estabilidade incomum para um ativo historicamente volátil.
Especialistas destacam que a capitalização de mercado, hoje em US$ 2,4 trilhões, ajuda a amortecer solavancos de preços. Há 10 anos, o valor de mercado do BTC era de apenas US$ 3,9 bilhões, o que mostra um salto de mais de 61 mil por cento.
Fabrício Tota, diretor de novos negócios do MB, afirma que o cenário atual exige “muito mais poder de fogo” para provocar oscilações relevantes. A entrada de capital via ETFs de bitcoin listados em Nova York, que já somam US$ 53,9 bilhões, também reduziu o impacto de movimentos especulativos.
Investidores institucionais ganham protagonismo
O perfil dos detentores de bitcoin mudou radicalmente nos últimos anos. Antes dominado por traders de curto prazo, o mercado agora tem forte presença institucional, com custódia profissional e uso do BTC como colateral em operações financeiras.
Esse novo público demonstra paciência e adota estratégias de longo prazo, reduzindo a frequência de quedas abruptas e picos agressivos de preço. Na avaliação de analistas, esse é o principal fator que sustenta o novo regime de volatilidade.
Além disso, a decisão do governo dos Estados Unidos de criar uma reserva estratégica de bitcoin em março fortaleceu a percepção de legitimidade do ativo, mesmo sem compras diretas anunciadas pela Casa Branca.
Bitcoin como ativo de reserva?
O avanço do BTC como possível ativo de reserva ainda divide opiniões. Para André Franco, CEO da Boost Research, a volatilidade atual segue elevada para consolidar essa função. Ele acredita que o título de “ouro digital” pode ser alcançado até 2035, quando a nova geração de investidores dominar o mercado.
Além disso, empresas listadas em bolsa também começam a direcionar caixa para o ativo. A Méliuz (CASH3), por exemplo, aprovou em março a alocação de até 10% de seu caixa em bitcoin, seguindo os passos da Strategy, companhia americana que acumula BTC há anos como parte da estratégia corporativa.
Portanto, esses movimentos, embora relevantes, ainda são incipientes diante do volume global necessário para consolidar a criptomoeda como ativo de reserva universal.
O que esperar daqui para frente
Apesar da calmaria recente, o bitcoin continua suscetível a choques externos. A expectativa do mercado se concentra na próxima reunião do Federal Reserve em setembro, quando pode ser iniciado o ciclo de corte de juros nos Estados Unidos.
Ademais, dados recentes de inflação e emprego reforçam o cenário de flexibilização monetária, o que tende a beneficiar ativos de risco como as criptomoedas. Caso o Fed sinalize prudência maior, o BTC pode enfrentar correções. Se optar por cortes mais rápidos, o ativo pode voltar a renovar máximas.
Por fim, para analistas o atual nível de estabilidade não significa ausência de riscos, mas sim um novo patamar para o mercado, que hoje tem maior robustez para enfrentar turbulências.